Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de julho de 2023
O advogado Marco Aurélio de Carvalho não esconde o “lulofanatismo” em seu escritório em Pinheiros, bairro nobre de São Paulo. Em volta da mesa na qual trabalha, exibe uma coleção de miniaturas de Lula, além de fotos e a biografia do presidente. Na sala ao lado, onde se reúne com clientes — alguns, inclusive, empresários bolsonaristas—, mantém um quadro da foto do petista abraçado por apoiadores no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, antes de ser preso em 2018.
Militante do PT desde os 12 anos, Marco Aurélio tornou-se importante figura no círculo de amizades do presidente. A relação entre os dois se estreitou durante a Lava-Jato, quando o coordenador do Prerrogativas — grupo de juristas progressistas que atuou em prol de Lula em 2022 — virou voz ativa na advocacia contra o hoje senador Sergio Moro (União-PR) e a operação.
O advogado estava no restrito grupo de aliados que buscaram Lula no aeroporto de Congonhas (SP), após ele deixar a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Na campanha, o advogado ajudou a articular a chapa com Geraldo Alckmin, organizando o jantar que marcou a primeira aparição pública dos dois. Em paralelo, sua mulher passou a ser uma das melhores amigas da primeira-dama, Janja.
Com a vitória de Lula, a expectativa do advogado e de aliados era a indicação para um ministério. Mas ele acabou preterido e, segundo amigos, frustrado. A cobiçada Secretaria-Geral da Presidência ficou com Márcio Macêdo, apesar de Marco Aurélio ter reunido o apoio de movimentos sociais, entre os quais o MST.
O coordenador do Prerrogativas foi sondado para outros cargos, mas recusou. Foi contemplado apenas no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o “Conselhão”. Longe da Esplanada, agora atua por conta própria, como um articulador informal de Lula.
Dias Toffoli
Marco Aurélio se incumbiu da tarefa de reaproximar Dias Toffoli do aliado. O entorno do presidente diz que ele não perdoa o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) por ter inviabilizado a sua ida ao enterro do irmão, Vavá, em janeiro de 2019, quando estava preso em Curitiba. Um ano antes, quando o PT foi destroçado pela Lava-Jato e Jair Bolsonaro despontava com favoritismo nas pesquisas de intenção de voto, Toffoli chamou a ditadura militar de “movimento de 1964”.
Ao ver o ministro sair cada vez mais da órbita petista, o Prerrogativas avaliou ser importante impedir que Toffoli fosse abraçado pelo bolsonarismo. A homenagem feita por Marco Aurélio ao ministro em maio de 2019, depois que ele assumiu a presidência da Corte, foi decorrência dessa estratégia, que se intensificou após a eleição.
Por meio do Prerrogativas, Marco Aurélio também tenta quebrar o gelo da relação dos ministros indicados por Bolsonaro ao STF, André Mendonça e Kassio Nunes Marques. O grupo promoveu um jantar em maio para receber Mendonça, com a presença de dois ministros de Lula. O episódio teve tom de reconciliação e afagos de integrantes do governo ao ministro “terrivelmente evangélico” de Bolsonaro. O próximo encontro deve ser com Nunes Marques.
A movimentação, no entanto, não se restringe a dirimir rusgas entre desafetos. Por meio do Prerrogativas, Marco Aurélio influencia no processo de escolha para os tribunais. O advogado, porém, nega.
Ainda que não seja um articulador oficial do governo, Marco Aurélio cumpre algumas missões a pedido de Lula. A mais recente foi abrandar as críticas de colegas juristas pela possível escolha de um homem branco para ocupar a vaga de Rosa Weber, que se aposenta este ano. O advogado foi a público dizer que Lula deve ter “ampla liberdade” de escolha, fala que rendeu críticas, especialmente de mulheres.
Rusgas com Dino
Embora seja próximo a Lula, Marco Aurélio foi voto vencido em decisões importantes do presidente, como a indicação de Cristiano Zanin ao STF. Ele defendia o advogado Manoel Carlos de Almeida Neto, nome da preferência do ministro Ricardo Lewandowski. Outro revés foi em relação ao desmembramento do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que resultou numa desavença com Flávio Dino, favorável à unificação das pastas e que via na proposta do colega uma tentativa de esvaziar seu poder e ficar com uma das vagas. Desde então, Marco Aurélio virou desafeto de Dino.