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Depois de criticar a Meta, empresa de Mark Zuckerberg, e acusá-la de se aliar à extrema direita para prejudicar a esquerda, a cúpula do PT a contrata

O PT chamou a big tech para dar aula sobre redes sociais a dirigentes, parlamentares e militantes do partido. (Foto: Reprodução)

Depois de criticar a Meta, empresa de Mark Zuckerberg, e acusar a companhia de se aliar à extrema direita para prejudicar a esquerda, a cúpula do PT se rendeu. Em um gesto inesperado, chamou a big tech para dar aula sobre redes sociais a dirigentes, parlamentares e militantes do partido. O curso virtual com técnicos da Meta ocorrerá no dia 17 de fevereiro e terá dicas de como impulsionar as postagens em cada plataforma.

A estratégia está em sintonia com os planos do novo ministro da Comunicação Social, Sidônio Palmeira, que orientou os petistas a compartilhar notícias favoráveis ao governo Lula e a não promover o engajamento dos posts de seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Na última sexta-feira, assessores dos ministérios e do PT estiveram no Palácio do Planalto para reuniões com a equipe de Sidônio. A ordem é alinhar a narrativa do governo com a do partido porque, no diagnóstico do marqueteiro, há uma “bateção de cabeça” generalizada.

A crise do Pix, por exemplo, nocauteou o governo, como mo s t r o u pesquisa Genial/Quaest divulgada no início da semana. O levantamento indicou não apenas queda de confiança em Lula 3 como revelou que o pior resultado na aprovação do inquilino do Planalto atingiu sua barreira de proteção: o eleitorado de até dois salários mínimos, as mulheres e o reduto do Nordeste.

A aproximação do PT com a Meta, porém, vem em um momento em que tanto o partido como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) têm defendido com ênfase a regulação das plataformas digitais.

“A gente precisa regular as redes mesmo. Não pode ser um vale-tudo”, avaliou o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto. “Só que essas big techs mandam no mundo e viramos escravos delas. Somos reféns das big techs, mas isso não significa que concordamos com a política adotada.”

Tatto disse que o curso virtual oferecido por técnicos da Meta não será pago. “Nós somos fornecedores de conteúdo para eles. É assim: a esquerda financia a extrema direita para ela nos destruir”, alfinetou o deputado.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, é uma das mais ferozes críticas de Zuckerberg. No último dia 12, ao comentar uma entrevista na qual o empresário afirmava que as companhias precisavam de “mais energia masculina” e “um pouco mais de agressividade” no ambiente corporativo, Gleisi definiu a declaração como “chocante”.

“É desolador para a humanidade ver que os controladores da mais avançada tecnologia de comunicação são trogloditas perigosos na vida real”, escreveu a presidente do PT no X (antigo Twitter). “Além de se aliar à extrema direita contra a democracia e a verdade nas redes, Mark Zuckerberg, dono da Meta, declarou seu machismo e misoginia.”

A discussão sobre a regulação das redes sociais ganhou ainda mais os holofotes depois que Zuckerberg anunciou mudanças nas práticas de moderação de conteúdo da Meta, dona do Instagram, do Facebook, do Threads e do WhatsApp.

Em claro aceno ao novo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o empresário pôs fim ao programa de checagem de fatos da Meta e disse que países latino-americanos têm “tribunais secretos” de censura, numa referência velada ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes. A guinada da companhia foi considerada “extremamente grave” por Lula.

O governo pretende enviar ao Congresso um novo projeto para obrigar as plataformas a remover postagens que incentivam discursos de ódio, desinformação e ferem as leis brasileiras. Além disso, o STF deve retomar em maio o julgamento que discute a possibilidade de responsabilização das big techs por conteúdos criminosos de usuários.

“Ninguém é contra a liberdade de expressão, mas a gente é contra a liberdade de agressão”, resumiu Sidônio durante plenária online para 3,2 mil petistas, na semana passada. “Além de defender o governo, vamos fazer o embate e a disputa política. Temos tudo para ganhar essa batalha e a eleição de 2026”, destacou Gleisi.

O novo ministro disse que cada um ali poderia ser um “comunicador digital” – ele não gosta da palavra “influenciador”. Foi então que deu uma dica: todos os vídeos postados nas redes sociais devem ter emoção e movimento.

“Se fizer tudo pasteurizado, tudo igual, tudo montadinho, trabalhado, não dá. Rede social gosta das coisas sujinhas, no bom sentido. Aquele negócio mais soltinho, mais simples. É isso que precisamos buscar”, insistiu. (Estadão Conteúdo)

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