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Deportações no governo de Donald Trump levam estrangeiros para longe dos Estados Unidos e criam legião de órfãos de pais vivos dentro do país

Foram deportados 31.888 estrangeiros sem antecedentes criminais. (Foto: Reprodução)

A imigração foi um dos principais temas do último ano nos Estados Unidos, mas Bianca, mexicana de 38 anos (nome fictício) que vive em Milwaukee, em Wisconsin — um dos Estados mais divididos politicamente do país — tenta de todas as maneiras não ouvir as notícias. Desde que Donald Trump chegou à Casa Branca, em 20 de janeiro do ano passado, seus filhos, de 10 e 14 anos, temem ir à escola e não encontrar os pais na volta.

“Eles perguntam sempre: o que vai acontecer se te pegarem, mamãe? Respondo que vamos todos para o México. Mas eles dizem que nunca pisaram lá, são daqui. Não posso fazer nada, não vou me separar deles, embora entenda os pais que façam isso pensando no futuro de suas crianças, deixando-os num país com mais segurança, educação e oportunidades. Mas meu coração não aguentaria”, disse ela, que vive há 16 anos nos Estados Unidos.

Um dos principais argumentos dos favoráveis à deportação de indocumentados é que eles estão descumprindo a lei e sabiam dos riscos ao entrarem no país. Mas, no governo Trump, que completa um ano no próximo sábado, a situação está levando americanos para longe de sua pátria: com a expulsão de pessoas sem antecedentes criminais, imigrados há décadas e com filhos já nascidos nos EUA, jovens americanos são levados a países em que nunca pisaram ou se tornam órfãos de pais vivos. Isso em uma nação formada por imigrantes e que necessita de mão de obra de fora e barata.

Desde que Trump chegou ao poder, os filhos de Bianca passaram por grandes mudanças, vivendo períodos de revolta e choro descontrolado. As histórias de amigos fizeram com que eles, assim como um grupo de cerca de 11 milhões de pessoas, vivam sob constante estresse, temor e insegurança.

“Muitos pensam que somos criminosos, querem que acreditemos nisso. Não é verdade! Trabalho duro, pago impostos, comprei uma casa aqui. Fazemos trabalhos que os americanos não aceitam mais fazer, vamos ser claros”, afirmou a faxineira. “Conheço mulheres cujos filhos serviram o Exército, mas que podem ser deportadas. Ter um documento é mais importante que alguém que dedicou o melhor de sua vida e até seus filhos a um país?”

Expulsão de imigrantes cresceu 177%

Além de seus filhos, seus três irmãos estão vivendo nos EUA: dois legalmente e um sem papéis. Bianca afirma que há muito tempo tenta se legalizar, mas que agora está cada vez mais difícil: o tempo que vive no país e os laços com filhos e parentes americanos não são mais levados em conta.

“Não quero uma reforma migratória, quero de volta a que tínhamos, quando nos deixavam trabalhar e apenas os criminosos, os violentos, eram expulsos. O governo ainda forja crimes: qualquer coisa que eu faça por estar sem o green card é considerada um delito. Vivemos sob intensa tensão.”

Não se trata de um caso isolado. Segundo um relatório da HRW (Human Rights Watch) divulgado no fim de dezembro, deportações de pessoas pacíficas, há décadas nos EUA e com fortes laços no país, aumentaram sob a gestão de Trump.

“Entre a posse e o fim de setembro, foram deportados 31.888 americanos sem antecedentes criminais. No mesmo período de 2016 foram 11.500. Ou seja, com o republicano a expulsão destas pessoas aumentou 177,3%”, explicou Clara Long, investigadora sênior da divisão americana da HRW.

Long faz parte de uma equipe que catalogou 46 casos emblemáticos, acompanhou estas pessoas até seus países de origem, e mediu o impacto nas famílias remanescentes nos EUA. Em muitos, os lares de americanos se tornaram vulneráveis. Em outros, as crianças podem ir para a adoção. Segundo ela, o drama social não se justifica, pois os latinos são o grupo onde no qual há menos incidência de violência. Além disso, a taxa de criminalidade não caiu em locais onde a deportação foi mais forte.

 

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