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Mundo Deportados ao Haiti incluem 580 crianças brasileiras

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Os EUA devolveram ao país 79% do total de 25.765 haitianos ou filhos de haitianos. (Foto: Reprodução)

O drama dos haitianos deportados de volta ao país de origem ao buscarem asilo principalmente no Estados Unidos atingiu, de janeiro de 2021 a fevereiro deste ano, 4.674 crianças, quase metade nascida fora do país. Dentre elas, 580 são brasileiras, a segunda maior nacionalidade, atrás apenas dos Chile (cerca de 1.600), mostra um relatório publicado nesta quinta-feira (24) pela Human Rights Watch (HRW), que alerta para o alto risco de violência que os deportados enfrentam ao chegar ao país, sem acesso efetivo à proteção ou à justiça.

“É inconcebível que qualquer governo envie pessoas para o Haiti enquanto o país vive tal deterioração da segurança e um risco aumentado para a vida e integridade física de todos”, disse César Muñoz, pesquisador sênior das Américas da HRW. “Qualquer pessoa pode ser vítima de sequestros, em qualquer lugar da capital, onde há áreas totalmente controladas por gangues, sem presença da polícia, sem serviço médico ou escolas, que estão fechadas há dois anos”.

Os números do relatório, coletados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), indicam que os EUA devolveram ao país 79% do total de 25.765 haitianos ou filhos de haitianos deportados entre 2021 e 2022. De setembro do ano passado, quando a OIM começou a coletar dados mais detalhados sobre as deportações, até fevereiro deste ano, apenas os EUA devolveram cerca de 2.300 crianças.

Os menores são filhos de haitianos que deixaram o país há vários anos, principalmente após o terremoto de 2010, para tentar a vida em países da América Latina, especialmente no Chile e Brasil. Após anos de certa estabilidade, no entanto, muitas famílias, já com filhos nascidos fora do Haiti, rumaram a caminho do “sonho americano”, onde acabaram deportados e enviados de volta, com base na polêmica norma conhecida como Título 42, criada durante o governo de Donald Trump. Parte do Código Sanitário americano, o Título 42 permite ao governo proibir a entrada de pessoas nos EUA quando o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) constatar que há “um sério perigo de uma nova doença ser introduzida” no país.

“Os Estados Unidos, que respondem pela grande maioria dos retornos, devem acabar com o uso desnecessário e ilegítimo de um regulamento de saúde pública para expulsões de haitianos”, alerta Muñoz.

O presidente Joe Biden chegou a afrouxar as regras, impedindo a detenção e deportação de crianças desacompanhadas, mas voltou atrás no contexto da pandemia do coronavírus. No começo deste mês, no entanto, o Tribunal de Apelações dos EUA para o Circuito do Distrito de Columbia ordenou que o governo parasse de usar o Título 42 para expulsar sumariamente famílias com crianças para países onde enfrentariam perseguição ou tortura. A decisão pode entrar em vigor em abril.

Além da deportação forçada, que, segundo organizações de direitos humanos, viola o direito internacional, alguns dos que voltaram para o Haiti acusaram agentes de fronteira dos EUA de levarem suas roupas, telefones, dinheiro e documentos pessoais — uma família disse à Human Rights Watch que um guarda rasgou toda sua documentação. Funcionários da OIM em Porto Príncipe também relataram à ONG que tiveram que tratar algumas crianças que chegavam desidratadas.

“Os oficiais de fronteira dos EUA rasgaram nossos documentos pessoais, incluindo as certidões de nascimento chilenas de nossas filhas. Nos separam em centros de detenção para homens e mulheres, não tínhamos acesso a chuveiros ou produtos de higiene e recebemos muito pouca comida. As meninas desenvolveram diarreia, mas não receberam assistência médica. Também não nos deixaram chamar um advogado, o consulado haitiano ou solicitar asilo”, contou a família à HRW. “Após 14 dias, autoridades de imigração nos colocaram em um avião e algemaram nossas mãos, cinturas e tornozelos”.

O casal, que viajou sem saber no mesmo avião, conta que o único alívio, ao desembarcar em Porto Príncipe, foi encontrar um ao outro. Lá, receberam ajuda de algumas agências humanitárias — produtos de higiene e um pouco de dinheiro. Depois, foram levados a uma estação de ônibus e abandonados à própria sorte.

“No aeroporto, eles não são informados sobre a localização das embaixadas brasileira ou chilena. As crianças que chegam no Haiti não terão oportunidade de ir à escola. Os pais, que deixaram o país há anos, também não conhecem mais a situação do bairro onde moravam, e muitos já não têm mais contato com familiares. Não há qualquer acompanhamento do que acontecerá com elas”, conta Muñoz, que esteve no país no fim do ano passado. “São simplesmente deixados ali, em um lugar absolutamente perigoso”.

O Haiti vive uma profunda crise política e constitucional. O primeiro-ministro Ariel Henry, suposto chefe de governo, não foi eleito, mas sim nomeado pelo ex-presidente Jovenel Moïse, dois dias antes de seu assassinato, em 7 de julho de 2021. O primeiro-ministro governa por decreto, sem mandato constitucional. O Parlamento também deixou de funcionar e o sistema de justiça mal pode operar.

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https://www.osul.com.br/deportados-ao-haiti-incluem-580-criancas-brasileiras/ Deportados ao Haiti incluem 580 crianças brasileiras 2022-03-24
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