Segunda-feira, 31 de março de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2025
Os sinos não vão dobrar por Carla Zambelli, deputada que o Supremo Tribunal Federal (STF) deve condenar à prisão pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. A referida parlamentar não tem a menor importância para o País, a não ser como exemplo da forma francamente desleal como o ex-presidente Jair Bolsonaro trata aqueles que, como Zambelli, lhe devotam cega fidelidade.
Que Zambelli é desqualificada para o exercício da representação parlamentar já é do conhecimento de todos há muito tempo. A indigitada é o tipo ideal do bolsonarismo: mitômana, inventou ter sido curada de covid apenas com o uso de cloroquina, inventou que o governo cearense enterrou caixões vazios para aumentar as estatísticas de mortos na pandemia e inventou que foi agredida pelo infeliz que ela temerariamente perseguiu, arma em punho, pelas ruas de São Paulo – crime pelo qual ela agora pagará. Ou seja, ela se notabilizou apenas pelo destrambelhamento e pela incapacidade de dizer a verdade, e não por projetos de lei do interesse de seus representados, razão pela qual ninguém deve chorar pela provável cassação de seu mandato.
Em defesa de Zambelli, contudo, deve-se enfatizar que tudo o que de infame ela fez, cada mentira que contou, estava perfeitamente consoante com o espírito do bolsonarismo. Ou seja, a deputada condenada existe e respira apenas como sintoma dessa doença infantil do reacionarismo.
E essa doença infantil é intrinsecamente pusilânime. O ex-presidente, há alguns dias, culpou a ainda deputada por ter perdido a eleição de 2022. “Carla Zambelli tirou o mandato da gente”, disse Bolsonaro ao podcast Inteligência Ltda., em referência justamente ao caso em que Zambelli, de arma na mão, saiu a perseguir um desafeto. Para Bolsonaro, essa imagem arruinou suas chances de vitória em São Paulo e, consequentemente, no Brasil.
Eis aí Jair Bolsonaro em sua melhor forma: para não reconhecer que perdeu a eleição de 2022 porque desrespeitou a dor dos brasileiros que tiveram familiares e amigos mortos durante a pandemia de covid-19 e porque atentou dia e noite contra o espírito da democracia brasileira, Bolsonaro joga a culpa por sua derrota em cima de uma obscura deputada – que, reitere-se, agiu apenas como boa bolsonarista. O nome disso, claro, é covardia.
Em resposta, Zambelli até murmurou um protesto: “Enfrentar o julgamento dos inimigos é até suportável. Difícil é aguentar o julgamento das pessoas que sempre defendi e continuarei defendendo”, escreveu ela nas redes sociais. Debalde: como sabem os muitos sabujos de Bolsonaro que acabaram descartados por ele quando deixaram de ter alguma utilidade a seus projetos pessoais, o ex-presidente exige lealdade absoluta de todos os que querem dele se aproximar, mas não garante reciprocidade.
Portanto, o caso de Zambelli só tem uma utilidade: mostrar àqueles que juram lealdade a Bolsonaro neste momento – achando que com isso terão a simpatia e o apoio eleitoral do ex-presidente – que correm sério risco de ter o mesmo destino da parlamentar: o descarte. (Opinião/O Estado de S. Paulo)