Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2025
Conversas rastreadas pela Polícia Federal apontam que o deputado federal Josimar Maranhãozinho (PL-MA), investigado por um suposto esquema de desvio de emendas parlamentares, apresentou indicações ao Ministério da Saúde no governo de Jair Bolsonaro que pudessem ser identificadas e posteriormente cobradas pelo agiota Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, junto às prefeituras contempladas. Em um dos diálogos, o deputado afirmou ao agiota que indicava “valores quebrados”, como R$ 1,048 milhão e R$ 4,123 milhões, o que facilitaria as cobranças.
Josimar e outros dois deputados do PL, Pastor Gil (MA) e Bosco Costa (SE), foram denunciados em agosto do ano passado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelas práticas de corrupção passiva e organização criminosa. A denúncia argumenta que os parlamentares, sob a liderança de Josimar, indicaram recursos federais para a prefeitura de São José do Ribamar (MA), em 2019, com o objetivo de que a verba fosse posteriormente coletada por Pacovan. O caso está sob a relatoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Cristiano Zanin, que determinou na semana passada sua inclusão na pauta de julgamentos na Corte.
Pacovan, que formalmente atuava como empresário de postos de combustíveis, ficou conhecido no Maranhão por emprestar dinheiro para candidatos a prefeituras em suas campanhas eleitorais — embora não apareça na prestação de contas das campanhas, o que configura crime de caixa dois. O próprio agiota sugeriu, em uma entrevista em 2022 ao “Leriado Podcast”, que suas operações podiam ter juros acima de 50% em um ano, e que tomava bens em caso de não pagamento — embora negasse o rótulo de agiotagem, e chamasse a atividade de “comércio”. Ele foi assassinado em junho de 2024, em um caso ainda sob apuração da Polícia Civil do Maranhão.
Quitação de dívida
Já a investigação da PF envolvendo os deputados do PL mostrou que o agiota também cobrava recursos públicos como forma de quitação de supostas dívidas. Em dezembro de 2019, no primeiro ano de Josimar como deputado federal, mensagens de WhatsApp mostram que o agiota foi informado sobre três repasses de verbas do Ministério da Saúde para auxiliar o custeio de unidades municipais, totalizando R$ 6,6 milhões.
Embora os recursos não se tratem formalmente de emendas parlamentares, os diálogos mostram que Josimar planejava as indicações para serem identificadas como suas. No fim de janeiro, cerca de um mês depois do empenho dos recursos pelo Ministério da Saúde, Pacovan relatou ao deputado, conforme as mensagens, que vinha tendo dificuldades para convencer a prefeitura de São José do Ribamar a lhe repassar parte dos recursos, que estariam sendo vinculados a “outro lobista”, identificado como Ebenezer. O parlamentar, por sua vez, reiterou que havia “botado” uma quantia específica para facilitar a identificação.
“Foi votado (sic) com valores quebrados para não ter essa (sic) tipo de problema”, afirmou Josimar.
No processo de indicações de verbas da Saúde em dezembro, ainda segundo as mensagens obtidas pela PF, Josimar havia orientado o colega Pastor Gil (PL-MA) a “deixar 1.048 para Ribamar”. No mesmo período, ele conversa com Bosco Costa (PL-SE) sobre alocação de recursos no mesmo município — embora o colega seja de outro estado —, e o orienta a “resolver” o assunto. Anotações encontradas com outros investigados vincularam Costa ao repasse de R$ 4,123 milhões. Outros R$ 1,5 milhão, segundo a investigação, couberam ao próprio Josimar.
Procurada, a defesa de Josimar afirmou que não comentará o caso. Nos autos, alegou que não há “prova de ele ter destinado alguma emenda” ao município em questão, tampouco de ter participação em eventuais desvios.
Nas mensagens entre Josimar e Pacovan, no entanto, o agiota compartilhou sua irritação diante do imbróglio com a prefeitura para receber uma fatia da verba da Saúde. Nas conversas, Pacovan afirma que esperava “R$ 1,6 milhão de devolução”, e envia os contatos do prefeito e do secretário municipal de Saúde, pedindo a Josimar que o ajude a “esclarecer” a questão.
“Porque eu quero desmascarar esse cara que tá dizendo que é dele. Ele vai pegar uma bala na cara. Esse vagabundo. Eu fiquei ontem até meia-noite lá com o prefeito, no Ribamar”, afirma Pacovan em um áudio enviado a Josimar, no fim de janeiro, de acordo com a PF.
A relação entre o deputado do PL e o agiota ia além do esquema com recursos da saúde. Em entrevista a um podcast no início de 2022, Pacovan disse que Josimar era “gente boa” e que “sempre me tratou bem”, além de ressaltar ter boa relação com a irmã do deputado, Josinha Cunha (PL), prefeita de Zé Doca.
Durante a gestão de Josinha, entre 2019 e 2020, o município assinou contratos de R$ 1,6 milhão com um dos postos de gasolina do agiota, o Posto Joyce I, localizado na BR-316 em um dos acessos a Zé Doca. Em junho de 2024, Pacovan foi executado nesse posto, com tiros pelas costas. A Polícia Civil, que ainda investiga o caso, trabalha com a hipótese de que a execução está relacionada a uma disputa de Pacovan com uma ex-funcionária do próprio posto. A cidade de Zé Doca segue sob gestão da família de Josimar: em 2024, ele elegeu a sobrinha, Flavinha Cunha (PL), como sucessora de Josinha, tia da atual prefeita. As informações são do jornal O Globo.