Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 13 de setembro de 2017
Um grupo de deputados bateu boca na terça-feira (12) no plenário da Câmara sobre a exposição de diversidade sexual em Porto Alegre cancelada pelo Santander Cultural após críticas de que as obras estariam promovendo pedofilia, a sexualização de crianças e zoofilia.
Dois promotores do Ministério Público do Rio Grande do Sul foram até o Santander Cultural, que sediava a mostra, e constataram, porém, que não havia pedofilia nas obras. Na terça, grupos protestaram em Porto Alegre pró e contra a suspensão da exposição. O tema foi levantado no plenário pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), que acabou hostilizado.
Em um dos momentos, o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) segurou cartazes atrás de Wyllys, enquanto ele discursava. Wyllys, então, arrancou uma das folhas de papel da mão do parlamentar. Um segurança chegou a se posicionar entre os dois.
Em seu discurso, Wyllys afirmou que a exposição foi alvo de intolerância e que não havia apologia à pedofilia na exposição. Enquanto ele argumentava que o Ministério Público não viu pedofilia nas obras, deputados, entre Major Olímpio (SD-SP), passaram a vaiá-lo e a gritar que ele estaria mentindo.
Vários parlamentares fizeram discursos em defesa da família, dizendo que a exposição atentava contra os bons costumes. Wyllys, então, voltou ao microfone e passou a citar reportagens que mostravam o posicionamento do Ministério Público de que não via apologia à pedofilia e chamou os colegas parlamentares de “bando de ignorantes, bando de hipócritas”.
Para efeito de comparação, ele afirmou que, por analogia, apresentar um crucifixo com Jesus Cristo em uma cruz seria apologia à tortura. O comentário inflamou ainda mais os ânimos.
Deputados ligados à bancada evangélica exigiam uma retratação, enquanto parlamentares de partidos de esquerda acusavam os demais de promover o “obscurantismo”.
“Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”
A exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”, com curadoria Gaudêncio Fidelis, que entrou em cartaz no dia 15 de agosto, no Santander Cultural, no Centro de Porto Alegre, foi cancelada no último domingo (10). As obras, que abordam questões de gênero e diferença, ficariam no espaço até 8 de outubro, mas após críticas, a instituição decidiu pelo término.
As obras ficariam no espaço até 8 de outubro. (Foto: Fabiane Christaldo/Especial/ O Sul)
Leia na íntegra a nota do Santander Cultural sobre a decisão:
“NOTA SOBRE A EXPOSIÇÃO QUEERMUSEU
Nos últimos dias, recebemos diversas manifestações críticas sobre a exposição Queermuseu – Cartografias da diferença na Arte Brasileira. Pedimos sinceras desculpas a todos os que se sentiram ofendidos por alguma obra que fazia parte da mostra.
O objetivo do Santander Cultural é incentivar as artes e promover o debate sobre as grandes questões do mundo contemporâneo, e não gerar qualquer tipo de desrespeito e discórdia. Nosso papel, como um espaço cultural, é dar luz ao trabalho de curadores e artistas brasileiros para gerar reflexão. Sempre fazemos isso sem interferir no conteúdo para preservar a independência dos autores, e essa tem sido a maneira mais eficaz de levar ao público um trabalho inovador e de qualidade.
Desta vez, no entanto, ouvimos as manifestações e entendemos que algumas das obras da exposição Queermuseu desrespeitavam símbolos, crenças e pessoas, o que não está em linha com a nossa visão de mundo. Quando a arte não é capaz de gerar inclusão e reflexão positiva, perde seu propósito maior, que é elevar a condição humana.
O Santander Cultural não chancela um tipo de arte, mas sim a arte na sua pluralidade, alicerçada no profundo respeito que temos por cada indivíduo. Por essa razão, decidimos encerrar a mostra neste domingo, 10/09. Garantimos, no entanto, que seguimos comprometidos com a promoção do debate sobre diversidade e outros grandes temas contemporâneos.”
Movimentos pela liberdade de expressão, representativos da causa LGBT e artistas prometem realizar protestos nesta semana em frente a unidade cultural.