Após se dividirem na votação da reforma tributária na Câmara, deputados federais do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, protagonizaram um bate-boca em um grupo de WhatsApp da bancada no domingo (9). Vinte integrantes da sigla votaram a favor do texto, aprovado na semana passada.
Mensagens obtidas pelo jornal O Globo e confirmadas por alguns dos envolvidos mostram uma discussão acalorada, com xingamentos, acusações e até ameaças de saída da legenda.
Diante do debate acalorado, o líder da sigla na Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), decidiu bloquear o grupo virtual. Assim, ninguém mais foi permitido a enviar mensagens.
Expressões como “melancias traidores” e “extremistas” fizeram parte do bate-boca. “Está igual o PSL”, comentou um dos deputados. Antes de se fundir com o DEM, o PSL se desintegrou em 2019 após apoiadores fiéis a Bolsonaro e outra parte da bancada entrarem em conflito.
Antes de bloquear o grupo, Côrtes informou aos parlamentares que conversaria com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, e com Bolsonaro sobre a situação.
A discussão no grupo do PL esquentou quando Vinícius Gurgel (PL-AP) passou a reclamar de “extremistas” e da perseguição aos 20 parlamentares favoráveis à reforma nas redes sociais. Gurgel foi um dos deputados da sigla que apoiaram a proposta. Segundo um deputado próximo a ele, o acirramento dos ânimos vem ocorrendo desde a votação do arcabouço fiscal.
“Só não fico ofendendo nas redes sociais quem vota de um jeito, então, peço respeito, cada um tem seu eleitor!”, escreveu o parlamentar. “Não sou de esquerda e nem de direita, sou conservador somente! Se quiserem pedir minha suspensão de comissões, expulsão, do jeito que vier está bom! Não é comissão que vai me eleger”, prosseguiu.
Fiel apoiadora de Bolsonaro, Julia Zanatta (PL-SC) atribuiu as reclamações à atitude de quem fica “choramingando”. “Não sei por que tanto choro. Se tinham tanta certeza do voto, por que estão se explicando até agora?”, declarou.
Os parlamentares, então, passaram a discutir a possibilidade de o partido ter duas lideranças distintas para representar os grupos divergentes. Carlos Jordy (RJ), alinhado a Zanatta, reagiu: “Para mim está muito claro: o PL não vai retroagir, o caminho é consolidar-se como o maior partido conservador, de direita, de oposição no Brasil. E aqueles que não aceitam essa posição devem sair do partido”.
Júnio Amaral (PL-MG) foi além: “Essas tentativas de justificar o voto aqui no grupo da bancada fica parecendo que nós, bolsonaristas, somos otários para acreditar que se trata de um posicionamento verdadeiro a favor do texto, me ajuda aí. Como se ninguém soubesse como funciona”.
Gurgel rebateu pedindo que o correligionário pedisse sua expulsão do partido. “Amigo, pede minha expulsão! Aqui não tem clima mais com vocês!”, respondeu a Amaral.
Em meio à discussão, o ex-ministro da Saúde General Pazuello, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro, surgiu tentando apaziguar os ânimos. “Está faltando política nestas discussões! Senhores, considerando que sou um calouro nesta legislatura, peço desculpas caso escorregue em algumas ideias. O nome do nosso partido é Partido Liberal, só pelo nome não cabe radicalismo e acusações!”, declarou.