Domingo, 26 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de dezembro de 2016
A Câmara dos Deputados bancou, com passagens aéreas e diárias, 1.283 viagens de deputados federais ao exterior desde 2010, em uma média de uma decolagem a cada dois dias.
Levantamento realizado com base em dados oficiais da Casa e em relatórios apresentados pelos parlamentares mostra um variado leque de motivações, destinos e explicações para as chamadas missões oficiais, que chegaram a 69 países dos cinco continentes, com especial predileção por Estados Unidos, Suíça e França.
O grosso das justificativas defende o conhecimento “in loco” de realidades diversas, além do estreitamento de parcerias com governos, parlamentos e empresários de outros países – o que não raro inclui turismo ou atividades de duvidoso proveito legislativo.
Nelson Pellegrino (PT-BA), por exemplo, é um dos que mais receberam autorizações, 14 no total, para viagens ao exterior desde 2010. Quatro delas para a França, onde participou de encontros da área de defesa em Paris, Bordeaux, Cherbourg-Octeville, Lorient e Toulon.
A última, em outubro deste ano, foi para visitar o Salão do Chocolate de Paris, ocasião em que publicou em redes sociais fotos do evento, entre elas a de um gorila de chocolate gigante. Pellegrino, até julho secretário de Turismo da Bahia (mais tradicional região produtora do cacau do País), também visitou uma região produtora de vinhos. Recebeu da Câmara R$ 7.750 em diárias, mais passagens.
Os campeões de viagens ao exterior são Jorge Tadeu Mudalen (DEM-SP) e Claudio Cajado (DEM-BA). O roteiro da dupla totaliza 21 países da América, Europa e Ásia. Mudalen fez 28 viagens desde 2010 e está atualmente na 29ª, segundo seu gabinete – esta, ainda sem registro no órgãos de transparência da Casa. A viagem anterior de Mudalen havia sido no início de novembro como observador da Assembleia-Geral da ONU. Já Cajado fez 25 viagens ao exterior desde 2010.
Uma das mais opulentas viagens de deputados ao exterior foi encabeçada em 2015 pelo então presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso. A comitiva levou 20 congressistas e pelo menos oito mulheres dos parlamentares a encontro na Rússia, mas o roteiro incluiu turismo em Israel, Paris e uma apresentação do “Lago dos Cisnes” no Bolshoi, em Moscou.
Mesmo comissões que despertam pouco interesse entre os deputados motivam deslocamentos internacionais. Tome-se o caso da que analisa a unificação no País das polícias Civil e Militar, tema com pouquíssima chance de prosperar no Congresso. Instalado há mais de um ano, o colegiado teve como único resultado no último mês a aprovação de um requerimento.
Apesar disso, parlamentares foram a cidades da Alemanha, França e Itália sob o argumento de conhecer o sistema de segurança público local. Os próximos destinos são EUA, Canadá e Chile.
Os deputados ouvidos pela reportagem defenderam a necessidade das viagens ao exterior afirmando que elas são essenciais para o trabalho que exercem.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que assumiu o mandato em julho deste ano, afirmou, por meio de sua assessoria, que a designação dos deputados para as viagens está condicionada a ganhos institucionais, a convites prévios de autoridades do país de destino e “à promoção do intercâmbio legislativo, das relações comerciais e do compartilhamento de tecnologias, entre outros ganhos”. (Folhapress)