Perdera o vagão do Renascimento chegando a destempo na gare de onde era certo que embarcaria sem destino conhecido. Nada mais lhe cabia senão o lazer ou ainda poderia, por minguada esperança, teimosia, persistência ou resquício de fé, esperar o encontro. Ocorreria? Com o Atemporal? Não, se ele, ou só ele, talvez, pudesse responder. Será mesmo?
Uma das mais inteligentes e desafiadoras situações que conviviam com o ser humano é o fato de não ter conhecimento antecipado da data do seu falecimento. Preferiram os que organizaram os primeiros mandamentos da sociedade; isto é, da coletivização humana que a nossa definitiva estada ou mero trânsito ocorreria por força do imaginável. Ou talvez de quem o concedesse. Preferiu Deus ou quem agiu em seu lugar que nós, humanos, não poderíamos nos submeter às regras do contrato por tempo determinado. A data final, incerta, tem feito o formal do pacto indeterminado e assim se fez. E assim será!
Neste momento, enquanto equipamentos resultado de fórmulas físico matemáticas despejavam números já substituídos por outros números (que às vezes desfilavam sua velocidade), até aterradores, vamos passando para informativos daqui, de lá e de acolá que nos pressionam porque vivem sobre a dependência do exato e do atual.
Logo, logo, uma nova manchete voa, por exemplo, para realmente intimidar e é aí que se personaliza o medo: alguém chegando, conhecido ou não, está na UTI. A qualquer momento, aquele disfarce teórico que parecia blindar um véu cinzento que confunde imagens não conseguirá enfrentar a doença que, agora, está em casa, reinando e ameaçando crianças, adultos e toda família.
Por incrível que possa ter sido, Oswaldo Cruz, perseguido no Rio de Janeiro sobre argumentos fanáticos que tentavam enganar a sociedade com poções de “água misturada”, foi capaz, seguindo sua vocação de cientista, de abrir o caminho de uma cidade que se tornou metrópole: o Rio de Janeiro.
Aos 80 anos, lembro-me de Umberto Ecco, sábio como sempre, que me esforço em compreender, quando diz: “Para um tolerante, é preciso fixar os limites do tolerável”.
Empenho-me para que os meus 80 anos me presenteie com a tolerância qualificada, com as valiosas lembranças da ciência e da consciência da missão de Ecco.