Terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2025
A inflação de janeiro ficou em 0,16%, a menor taxa para o mês desde a implementação do Plano Real, em 1994. À primeira vista, o número passa a sensação de que o pior na alta dos preços ficou para trás, mas houve um efeito atípico que permitiu a desaceleração do indicador: o bônus pago pela hidrelétrica de Itaipu aos consumidores de energia permitiu uma forte redução da conta de luz, que caiu 14,21%. Esse único item contribuiu para uma redução de 0,55 ponto no IPCA.
Pelos cálculos do economista Luis Otávio Leal, da gestora G5 Partners, sem o efeito da energia elétrica, o IPCA e janeiro teria ficado em 0,71%, ou seja, teria acelerado na comparação com o mês de dezembro (0,52%).
Em janeiro, Itaipu distribuiu R$ 1,3 bilhão referente ao saldo positivo que teve com a venda da sua energia. A medida foi aprovada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em novembro e segue a determinação de uma lei de 2002 e um decreto de 2021. A previsão era que 78 milhões de consumidores fossem beneficiados.
No restante dos itens que compõem a cesta de produtos do IPCA, há uma série de notícias preocupantes.
Regime de metas
A taxa acumulada em 12 meses, que serve de referência para o chamado “regime de metas” do Banco Central, apesar do recuo de 4,83% para 4,56%, ainda permaneceu acima do teto da meta de inflação (a meta é 3%, com teto de 4,5%). Mesmo com esse efeito atípico da energia elétrica, o número não voltou a ficar dentro da margem de tolerância.
O chamado índice de difusão, que mede a quantidade de produtos que subiram de preços, recuou um pouco, de 69% para 65%, mas o patamar permanece bastante elevado. Em outras palavras, quer dizer que, de cada 100 itens, 65 ficaram mais caros no primeiro mês do ano.
Dois grupos que mexem bastante com o bolso dos consumidores tiveram as maiores altas do índice. Os transportes subiram 1,3%, com forte aumento de passagens aéreas (10,42%) e ônibus urbanos (3,84%).
Já o grupo alimentação e bebidas teve o quinto aumento consecutivo, com alta de 0,96%. As carnes, que viraram obsessão nacional após as promessas de campanha do presidente Lula, subiram 0,36%, acima da média do IPCA.
A picanha, por sua vez, saltou 3,95% e acumulou alta de 12,36% em 12 meses, o maior patamar desde janeiro de 2022.
Indústria
Leal pontua outros dados negativos do indicador de janeiro: os bens industriais já chegam a 2,99% em 12 meses, refletindo o aumento do dólar no País, e os chamados “serviços subjacentes”, que tem forte correlação com os salários dos trabalhadores, saltaram para 0,86% no mês, o patamar mais alto desde junho de 2022.
Para fevereiro, ele projeta que, com o impacto do reajuste das mensalidades escolares de fevereiro, o índice deve acelerar para 1,3%, o que fará com que a taxa em 12 meses também volte a subir.
Apesar da desaceleração do IPCA em janeiro, a composição do indicador não foi boa. Isso fará com que o Banco Central continue elevando a taxa Selic nas próximas reuniões do Copom. Hoje, a taxa está em 13,25%, e subirá pelo menos mais um ponto na reunião do Copom de março. (Estadão Conteúdo)