Sábado, 19 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2025
Aluna do segundo ano do ensino fundamental, Sarah Raíssa Pereira, de 8 anos, morreu na quarta-feira (10), após inalar, por tempo prolongado, o conteúdo de um desodorante em aerosol, prática conhecida como o “desafio do desodorante”. O desafio, que circula entre crianças e adolescentes pelo aplicativo TikTok, provocou na menina uma parada cardiorrespiratória.
“É como se eu tivesse perdido um pedaço de mim”, desabafou Izabella Nogueira, professora de Sarah. A educadora esteve no Cemitério Campo da Esperança, em Taguatinga, para se despedir da estudante, que foi vítima de um desafio letal nas redes sociais.
Segundo o delegado-chefe adjunto da 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia), Walber José de Sousa Lima, a prioridade agora é identificar quem criou e quem compartilhou o conteúdo. “Caso sejam identificados, podem responder por homicídio duplamente qualificado, com pena de até 30 anos de reclusão”, afirma.
O delegado levanta um alerta para a importância do monitoramento por parte dos pais. “O conteúdo que os filhos acessam necessita, por parte dos pais e responsáveis, uma maior fiscalização, para que essas crianças não acessem conteúdos inadequados, mesmo dentro de casa, em ambientes considerados seguros”, completa.
Para a educadora parental Priscilla Montes, o caso escancara um cenário urgente: crianças que buscam nas redes sociais o pertencimento e a atenção que não encontram no mundo físico. “Isso as torna vulneráveis a ideias extremistas, misoginia, bullying e até abusadores. Basta alguém oferecer atenção, confiança e a sensação de pertencimento, e ela se agarra a isso como salvação”, defende.
A especialista defende que o quarto de casa, muitas vezes visto como um espaço seguro pelos pais, pode se tornar muito perigoso. “Com o celular na mão e acesso irrestrito às redes, essas crianças são jogadas num universo que cabe na palma da mão, mas está cheio de riscos. Elas não têm maturidade para lidar com isso”, acrescenta Priscilla.
As redes sociais, aponta a educadora, podem ser perigosas para o desenvolvimento infantil. Mas, segundo ela, a pergunta principal é: por que essas crianças estão lá? “Falta um adulto presente, que oriente, que imponha limites, que converse sobre os riscos e ouça de verdade. Precisamos entender por que crianças tão novas acessam conteúdos feitos para adultos. O sentimento de pertencimento é natural e necessário, mas deve ser guiado pelos pais”, conclui a especialista.
Responsabilidade legal
A advogada criminalista Lina Rezende explica que, no Brasil, há dispositivos legais específicos para a responsabilização de menores em situações como as que envolvem os chamados “desafios virtuais”, como o “desafio do desodorante”.
Lina esclarece que crianças com menos de 12 anos são inimputáveis penalmente, ou seja, não respondem por ato infracional. Já adolescentes entre 12 e 18 anos podem ser responsabilizados, inclusive por crimes graves como homicídio doloso ou induzimento ao suicídio.
Para a advogada, além das responsabilidades individuais, é preciso cobrar as plataformas digitais. “A jurisprudência tem avançado no sentido de reconhecer que redes como o TikTok têm um dever de vigilância e moderação. Elas não podem simplesmente alegar que apenas hospedam conteúdo”, garante. Ela ainda ressalta que falhas de moderação podem gerar indenizações por danos morais e materiais perante a Justiça.