Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 25 de dezembro de 2024
Ao contrário de sua aparência serena, o globo nublado de Vênus é um mundo de calor intenso, pressão atmosférica esmagadora e nuvens de ácido corrosivo. (Foto: Nasa/Divulgação)
Foto: Nasa/DivulgaçãoUma tese considerada plausível pela comunidade científica, a de que Vênus poderia ter hospedado oceanos líquidos e temperaturas amenas há bilhões de anos, foi contestada por uma equipe de astrônomos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. A descoberta deles leva a entender que não houve vida extraterrestre no planeta.
Em um estudo recente, publicado na Nature Astronomy, os pesquisadores avaliaram a composição química da atmosfera venusiana e concluíram, primeiramente, que o interior seco de Vênus jamais teve água suficiente para formar oceanos, e, em segundo lugar, que seu clima foi sempre quente e hostil.
Os resultados do estudo têm duas implicações principais. Primeiramente, ele ajuda a compreender o quão único é o nosso planeta em relação às condições que permitem o surgimento e a manutenção da vida.
Além disso, a pesquisa dá um recado aos buscadores de exoplanetas potencialmente habitáveis: concentrem suas buscas em superterras e esqueçam os planetas semelhantes a Vênus.
No limite
Embora, de longe, Vênus seja frequentemente chamado de “gêmeo da Terra”, por ser quase idêntico em tamanho e rochoso como nosso planeta, a aproximação revela um mundo coberto de nuvens de ácido sulfúrico, com temperaturas médias de 500°C.
Para a primeira autora do artigo, Tereza Constantinou, doutoranda em Cambridge, a teoria de que Vênus suportou vida no passado deverá ser testada com o envio de sondas no final desta década.
“Dado que, provavelmente, nunca houve oceanos, é difícil imaginar Vênus tendo sustentado vida semelhante à da Terra, que requer água líquida”, ressalta ela em um release.
Esse raciocínio também se aplica à busca por vida em outros lugares da nossa galáxia. Exoplanetas são buscados pelos astrônomos orbitando suas estrelas hospedeiras dentro da chamada zona habitável.
Essas regiões possuem temperaturas compatíveis com a existência de água líquida na superfície dos planetas, o que seria um primeiro passo para a existência de vida.
Nesse contexto, Vênus “nos dá uma oportunidade única de explorar um planeta que evoluiu de forma muito diferente do nosso, bem no limite da zona habitável”, afirma Constantinou.
Pouca água
Para testar as duas teorias climáticas sobre a evolução de Vênus desde sua formação há 4,6 bilhões de anos, a equipe decidiu observar a química atmosférica atual do planeta, explica Constantinou.
Eles partiram de um princípio: “Para manter a atmosfera venusiana estável, quaisquer produtos químicos removidos da atmosfera também devem ser restaurados a ela”, para evitar alterações na composição atmosférica.
Dessa forma, os autores calcularam a taxa atual de destruição de moléculas específicas (água, dióxido de carbono e sulfeta de carbonela) na atmosfera venusiana.
Para que a estabilidade química na atmosfera seja mantida, é necessário, no caso de Vênus, que as moléculas perdidas sejam repostas por outros processos, como o vulcanismo.
Ao fornecer gases à atmosfera, os vulcões funcionam como uma janela para o interior de planetas rochosos. Isso porque o magma que sobe do manto à superfície libera gases das regiões mais profundas do planeta.
Enquanto, na Terra, as erupções vulcânicas são, principalmente, vapor originário do interior do planeta rico em água, em Vênus isso não acontece.
Com base na composição dos “gases faltantes” na atmosfera venusiana, os pesquisadores descobriram que os gases vulcânicos de Vênus contêm, no máximo, 6% de água.