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Colunistas Desgarrados

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Os moradores de rua, que muitas vezes passam despercebidos em nosso cotidiano apressado, são os verdadeiros “desgarrados” da vida e da sociedade

Foto: Divulgação
Os moradores de rua, que muitas vezes passam despercebidos em nosso cotidiano apressado, são os verdadeiros “desgarrados” da vida e da sociedade. (Foto: Divulgação)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

“Eles se encontram no cais do porto pelas calçadas, fazem biscates pelos mercados, pelas esquinas”. Quem não lembra da bela letra da música “Desgarrados”, do grupo Rock de Galpão?

Às vésperas do Natal, quando as luzes piscam nas ruas e o aroma de rabanadas, panetones e pinheirinhos invadem o ar, somos convocados a refletir sobre aqueles que, em meio à festa, permanecem invisíveis.

Os moradores de rua, que muitas vezes passam despercebidos em nosso cotidiano apressado, são os verdadeiros “desgarrados” da vida e da sociedade. Eles se encontram nas calçadas, nas esquinas, revirando o lixo e, por vezes, nos botecos da vida, carregando consigo suas histórias de vida que poucos conhecem, ou não dão a menor importância…

Quando olho para um desses homens ou mulheres maltrapilhos, vejo muito mais do que a imagem de um mendigo ou um pedinte. Cada um deles carrega consigo uma bagagem única: há os mais agressivos, que reagem com hostilidade ao mundo que os rejeita; os humildes, que pedem ajuda com um olhar triste; os simpáticos, que ainda conseguem sorrir apesar das adversidades; e os alienados, perdidos em suas próprias realidades e ilusões.

Mas todos têm algo em comum: cada um deles já foi uma criança. Talvez tenham sido amados e conhecido a proteção de uma família, mas em algum momento da vida se perderam – “se desgarraram de seu rebanho”.

As razões para esses desencontros são diversas. Para alguns, as drogas abriram o caminho para um sofrimento insuperável, alimentado por prazeres ou ilusões efêmeras; para outros, as desilusões amorosas ou fatalidades da vida foram o ponto cataclísmico que arremessaram suas almas em um abismo aparentemente sem retorno…

Contudo, por trás das aparências desses desgarrados e dos olhares distantes, ainda existe um ser humano com anseios e desejos semelhantes aos nossos.

O espírito infantil ainda reside ali dentro, junto com sua criança interior, esperando por uma oportunidade de renascer, amar e ser amado novamente…

É importante lembrar que essas pessoas não estão completamente perdidas. Existem várias histórias inspiradoras de homens e mulheres que conseguiram se libertar dos vícios e reacender na sociedade.

Para alcançar isso, muitos tiveram um grande insight e decidiram mudar de vida, ou foram incentivados por alguém – até mesmo por uma crença religiosa ou quem sabe pelo próprio Deus.

Nesta véspera de Natal, convido você a olhar para esses “desgarrados” e imaginar suas crianças interiores – aquelas crianças lindas e sorridentes que um dia foram cheias de sonhos, alegrias e esperanças.

E se cada um de nós pudesse dar uma palavra de incentivo? Um gesto de solidariedade? Até mesmo um simples abraço?

Às vezes tudo o que eles precisam é de um ombro amigo, ou uma mão estendida para ajudá-los a reencontrar o caminho de volta à plenitude da suas vidas…

Assim como na música que me inspirou – onde os ventos sopram carregados de saudade e os sonhos ainda têm valor –, é possível acreditar que mesmo os mais desgarrados podem voltar à vida.

Devemos lembrar que qualquer um de nós poderia estar na mesma situação; somos seres humanos falhos e frágeis, e muitas vezes as circunstâncias da vida nos remetem a caminhos inesperados.

Recentemente, o Rio Grande do Sul foi devastado pelas enchentes de abril e maio deste ano, que resultaram em centenas de mortes e milhares de desabrigados.

Essas tragédias nos mostram que um desgarrado pode ser alguém que, em um momento de fatalidade, perdeu tudo o que tinha, até mesmo a vontade de viver…

Que nesta época festiva possamos nos lembrar deles, não apenas como figuras tristes nas calçadas, mas como seres humanos dignos de amor e passíveis de reconexão.

Afinal, quem sabe, ao darmos uma forcinha, não conseguimos trazer à tona aquele ser maravilhoso que ainda habita dentro deles?

Que este Natal seja uma oportunidade para olharmos além das aparências e oferecermos esperança àqueles que mais precisam… Feliz Natal a todos!

* Fabio L. Borges, jornalista e cronista gaúcho

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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