Ícone do site Jornal O Sul

As despesas pessoais do ex-governador do Rio Sérgio Cabral alcançavam a fortuna de 4 milhões de reais por mês

Com o dinheiro da corrupção, Cabral bancava a todos da família e comparsas. (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Quando escreveu, na sentença que decretou a prisão do ex-governador Sérgio Cabral, que o “contraste entre a opulência dos acusados de praticar crimes de maneira reiterada com o dinheiro público e o arrocho imposto à população fluminense expõe uma versão criminosa de governantes ricos e governados pobres”, o juiz federal Sérgio Moro não estava apenas usando retórica.

Ele descrevia uma incrível realidade, que foi comprovada no decorrer das investigações sobre a organização criminosa que se instalou no Palácio Guanabara. Segundo a força-tarefa fluminense da Operação Lava-Jato, as despesas pessoais de Cabral alcançavam a fortuna de 4 milhões de reais por mês.

Os gastos mensais de cerca de 220 mil reais, com pagamento de funcionários, médicos, condomínio, seguro de carros e outras pequenas despesas, relatados pela ex-secretária Sonia Ferreira Baptista correspondiam a cerca de 5% do que Cabral desembolsava mensalmente.

Os custos com a manutenção de outros apartamentos, escritórios, veículos; o pagamento de aulas de equitação, sessões de massoterapia; a compra de joias, obras de arte, roupas e móveis de grife; o sustento dos parentes, comparsas e até os gastos com campanhas eleitorais, tudo bancado com as propinas, entraram nos cálculos dos membros do Ministério Público Federal.

Com o dinheiro da corrupção, Cabral bancava a todos. Dava dinheiro para a mãe, para os irmãos, filhos, para as tias, primos, para a ex-mulher e até para a ex-sogra e ex-cunhada. Segundo a investigação, Angela Neves e Nina Neves recebiam 7,5 mil reais por mês do ex-governador. Somente com o aluguel de um escritório no Leblon, Cabral pagava 42 mil reais por mês. Ele esbanjava dinheiro.

As despesas com a ex-primeira-dama, Adriana Ancelmo, todas pagas em dinheiro vivo, eram perdulárias. Segundo depoimento de Michelle Tomaz Pinto, gerente-financeira do escritório dela, a mulher de Sérgio Cabral chegou a gastar 300 mil reais de cartão de crédito. Por apenas seis vestidos sob medida, Adriana se deu ao requinte de pagar 57 mil reais. Por uma espreguiçadeira, pagou 31,6 mil reais. Cabral, que tinha salário de cerca de 20 mil reais como governador, chegou a contratar uma personal stylist para escolher suas roupas da grife Alberto Gentleman, e gastou 86 mil reais em ternos e cuecas.

O montante do roubo da organização criminosa liderada por Cabral ainda é uma incógnita. Mas, para se ter uma ideia da fortuna, basta dizer que, em apenas três operações (Calicute, Eficiência e Fatura Exposta), foram bloqueados bens e valores estimados em 950 milhões de reais, sendo que 319 milhões de reais foram ressarcidos aos cofres públicos.

Segundo dados do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça e Cidadania do Ministério da Justiça e Segurança Pública, em 17 anos, o Brasil já obteve bloqueios de cerca de 2,7 bilhões de reais (900 milhões de dólares) no exterior, e repatriou 600 milhões de reais (200 milhões de dólares), dentre os quais 36 milhões de reais em obras de arte (no caso Banco Santos), 15 milhões de reais referentes à Operação Lava-Jato, além de dois apartamentos em Nova York (EUA), e uma casa de luxo no Valle Nevado, no Chile.

 

Sair da versão mobile