Segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 3 de janeiro de 2023
Partido de oposição a Joe Biden está dividido entre conservadores mais moderados e tradicionais e a extrema direita trumpista
Foto: DivulgaçãoPela primeira vez desde 1923, nenhum deputado conquistou maioria na eleição para a presidência da Câmara dos Estados Unidos na inauguração de uma legislatura, em uma sessão que expôs a desunião dentro do Partido Republicano, dividido entre conservadores mais moderados e tradicionais e a extrema direita trumpista.
Foram três votações fracassadas, no que deveria ter sido uma vitória fácil para o partido da oposição, que nas eleições legislativas de novembro passado conseguiu conquistar mais cadeiras na Casa, tomando o controle dos democratas do presidente Joe Biden. Uma nova tentativa será feita nesta quarta.
Todos os 434 deputados — excluindo o assento que está vago após a morte do deputado Donald McEachin, um democrata da Virgínia, no final de novembro — compareceram para votar, sendo 222 republicanos e 212 democratas. Para a eleição da presidência da Câmara, é necessária uma maioria simples de 218 votos.
Três candidatos
Três candidatos se apresentaram na primeira votação. O favorito era o republicano da Califórnia Kevin McCarthy, líder da oposição nos últimos dois anos e escolhido da direção do partido. Houve ainda Andy Biggs, apresentado pelo trumpista Paul Gosar, e Hakeem Jeffries, representando o Partido Democrata.
O número de rebeldes entre os republicanos chegou a 19 votos, muito além da margem possível de quatro deserções. O resultado total foi de 203 votos para McCarthy, que acabou até atrás de Jeffries, que ficou com todos os 212 votos democratas. Biggs teve 10 votos, e outros nove foram para outros republicanos que não concorriam formalmente.
Segunda votação
Antes da segunda votação, houve um momento cômico: Jim Jordan, de Ohio, foi apontado pela maioria dos republicanos para defender a nomeação de McCarthy, e discursou em sua defesa. Imediatamente em seguida, o radical de direita Matt Gaetz, da Flórida, pediu a palavra, e defendeu votos para Jim Jordan.
O pedido teve efeito: enquanto os votos em McCarthy e em Jeffries foram iguais aos da primeira votação, de novo houve 19 deserções entre os republicanos, e desta vez todos os votos rebeldes foram depositados em Jim Jordan. Após a votação, Gaetz deu uma entrevista e disse que os rebeldes receberam ameaças da direção do Partido Republicano, como a exclusão de comissões, mas que não irão se intimidar:
“Não somos marionetes”, afirmou.
Terceira votação
Na terceira votação, Kevin McCarthy, Jordan e Jeffries foram candidatos: o número de rebeldes republicanos subiu para 20, deixando McCarthy mais uma vez sem a maioria. Jordan, mais uma vez, concentrou o apoio dos dissidentes.
A sessão foi então suspensa, para permitir a articulação interna entre os republicanos. Uma nova tentativa será feita nesta quarta. Na última vez que não houve aprovação logo na primeira votação, há 100 anos, foram necessárias nove votações ao longo de três dias até a eleição do republicano Frederick Gillet.
A presidência da Câmara é a terceira posição mais alta dos Estados Unidos, abaixo somente do presidente e do vice-presidente. Sem presidente, a Casa não pode fazer nada: não pode aprovar leis, formar comissões ou adotar regras, nem tampouco lançar investigações contra Biden.
Humilhação
O resultado representa uma humilhação para McCarthy, que pela segunda vez chega perto da presidência da Câmara, sem alcançá-la. Em 2015, ele retirou sua candidatura antes da votação, quando entendeu que seu nome não iria gerar união dentro do partido.
Nos últimos sete anos, McCarthy foi um ferrenho defensor de Trump, e recebeu apoio do próprio, mesmo assim sem convencer a extrema direita — tentou conquistar o apoio de alguns de seus detratores fazendo várias concessões, divulgadas em uma lista de propostas de regras administrativas da Câmara tornada pública no fim de semana.
As propostas incluíam tornar mais fácil para um pequeno grupo de legisladores pedir a remoção do presidente da Câmara e uma proposta de maior diversidade ideológica nas comissões. No entanto, nove membros do Partido Republicano enviaram uma carta em resposta, dizendo que o plano do republicano da Califórnia não ia longe o bastante.
Compromissos
Entre as demandas que ainda são requeridas está o compromisso de realizar votações de uma série de projetos de lei apoiados por membros de extrema direita, incluindo limites de mandatos para membros do Congresso, mudanças no Orçamento federal para que qualquer destinação de gastos receba apoio de dois terços da Câmara para ser aprovada e reforços da segurança na fronteira Sudoeste.
Mesmo que McCarthy eventualmente prevaleça, ele estará politicamente enfraquecido e enfrentará uma difícil tarefa para levar adiante sua agenda. Não está claro quem mais pode ter apoio suficiente entre os republicanos para destravar o impasse, caso este se arraste por várias votações.