Sábado, 26 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 1 de dezembro de 2015
Uma das maiores estrelas conhecidas na Via Láctea, a hipergigante vermelha VY Canis Majoris, a maior estrela já observada, deverá explodir em uma espetacular supernova dentro de algumas centenas de milhares de anos, brilhando no céu da Terra tanto quanto a Lua. Antes disso, porém, o astro agonizante, com 30 a 40 vezes a massa do Sol e 300 mil vezes mais brilhante que nossa estrela, continuará a expelir parte de seu material. Alvo de diversas teorias, o mecanismo por trás deste processo de “emagrecimento” ainda é objeto de muitas dúvidas entre os cientistas, mas novas observações com o telescópio VLT, do Observatório Europeu do Sul, no Chile, podem ter finalmente revelado seu segredo.
Graças às capacidades do instrumento Sphere, instalado em uma das quatro unidades do VLT, uma equipe de astrônomos conseguiu pela primeira vez medir o tamanho das partículas lançadas ao espaço pela VY Canis Majoris. O Sphere (sigla em inglês para “instrumento espectro polarimétrico de alto contraste para pesquisa de exoplanetas”) tira vantagem do fato de a luz da estrela ser parcialmente polarizada quando se choca com as nuvens de detritos em sua órbita para ajudar a “filtrar” sua grande luminosidade, permitindo que este material seja observado em detalhes inéditos.
Assim, análises das observações da VY Canis Majoris mostraram que as partículas de poeira em torno da estrela são relativamente grandes, com cerca de 0,5 micrômetro (milésimo de milímetro) de diâmetro. Pode não parecer muito, mas este tamanho é cerca de 50 vezes superior ao da poeira normalmente encontrada no meio interestelar, grande o bastante para que estas partículas experimentem uma constante pressão da intensa radiação emitida pelo astro, sendo empurradas cada vez mais para longe no espaço, e ao mesmo tempo pequeno o suficiente para que este material não “afunde” novamente na direção da estrela.
Observações da nuvem de detritos em torno da VY Canis Majoris mostram que eles são grandes o bastante para serem “empurrados” pela pressão da intensa radiação do astro.
“Estrelas maciças têm vidas muito curtas”, lembra Peter Scicluna, do Instituto de Astronomia e Astrofísica Academia Sinica, em Taiwan, e principal autor do estudo sobre a estrela, aceito para publicação pelo periódico científico Astronomy & Astrophysics. “Quando estas estrelas se aproximam do fim das suas vidas, elas perdem muito de sua massa. No passado, só podíamos teorizar sobre como isso acontecia, mas agora, com os novos dados do Sphere, encontramos grandes grãos de poeira em torno desta hipergigante. E eles são grandes o suficiente para serem empurrados pela intensa pressão da radiação da estrela, o que explica sua rápida perda de massa”.
Além de demonstrar como estrelas como a VY Canis Majoris podem perder tanta massa em tão pouco tempo, o tamanho dos grãos de poeira em torno dela indica que este material deverá sobreviver à sua inevitável “morte” com uma explosão em supernova. Lançados ao espaço interestelar, eles vão enriquecer a variedade de elementos neste meio, servindo também como “sementes” para futuras gerações de estrelas e planetas em nossa galáxia.