Domingo, 17 de novembro de 2024
Por Paula Sauer | 8 de março de 2024
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Cada vez mais as mulheres buscam assumir o controle de suas finanças e, consequentemente, investir os recursos de olho em suas necessidades, preferências e o alcance de uma aposentadoria tranquila. Uma das principais alavancas foi a crise econômica ocasionada pela covid-19, que também despertou a necessidade de se planejar financeiramente e motivou as mulheres a rever seus gastos e buscar uma maior autonomia nas tomadas de decisão.
Pesquisa realizada pelo Serasa reforça que as mulheres agora lideram o comando dos recursos dentro de casa, participam de maneira mais assertiva do orçamento, da construção do patrimônio da família e buscam equiparação salarial. Além disso, elas são responsáveis por garantir a pontualidade das contas do lar, evitando um endividamento ainda maior das famílias.
Embora as mulheres tenham dedicação em jornada múltipla, como aponta a economista americana Claudia Goldin, ganhadora do Prêmio Nobel 2023 e que estuda a participação feminina na força de trabalho e a economia do casal, com foco na desigualdade de gênero no trabalho, acabam se dedicando a seus negócios em tempo parcial. Quando falamos de donas de negócios, elas se dedicam 30% menos aos seus negócios, no comparativo com os homens.
No caso das mulheres empreendedoras, isso significa que elas precisam se desdobrar em diversos papéis. Por exemplo, elas se responsabilizam pelas tarefas domésticas e cuidados à família ao mesmo tempo em que administram seus negócios. Além disso, as mulheres ainda cuidam de suas carreiras, utilizando-se profissionalmente e culturalmente.
Essa jornada múltipla acarreta uma carga física e psicológica muito alta. Conciliar empresa, casa, família e estudos não é fácil; ainda assim, as mulheres assumem esses vários papéis e realizam essas tarefas com garra, mesmo que às vezes algumas delas fiquem comprometidas.
Preconceito e falta de incentivo
A discriminação é outro grande desafio que o empreendedorismo feminino enfrenta. Isto porque, as mulheres ainda sofrem julgamentos desiguais em relação aos homens, por serem considerados mais competentes em assuntos relacionados aos negócios. Um efeito que está enraizado e com forte influência cultural, construído e reiterado por muitos anos de história.
As empreendedoras sofrem com a falta de apoio, mesmo de suas próprias famílias e amigos, que não confiam no potencial de seus negócios. Mesmo com tamanha discriminação, algumas instituições vêm investindo em negócios criados por mulheres, por entender que quando uma mulher tem um negócio ela se preocupa com o entorno, transbordando o empreendedorismo e seus desdobramentos para a sociedade.
As experiências de vida das mulheres empreendedoras, mesmo as mais velhas, desempenham um papel significativo na formação de suas atitudes em relação ao dinheiro e aos investimentos. Várias experiências podem influenciar essas percepções e, por consequência, contagiar outras mulheres, especialmente aquelas mais jovens e aquelas que estão no +60 anos.
Aquelas que receberam uma educação financeira sólida desde jovens têm maior probabilidade de tomar decisões informadas em relação ao dinheiro, aos investimentos ao longo da vida e como empreender. Podem ser exemplos para as demais. Também, a carreira profissional de uma mulher pode impactar significativamente sua independência financeira. Mulheres que tiveram carreiras bem-sucedidas podem ter uma abordagem mais confiante em relação ao dinheiro, aos investimentos e aos negócios.
Geralmente se deparam com a desigualdade salarial ou discriminação de gênero no desenvolvimento de seus trabalhos. Podem ter uma relação mais desafiadora com o dinheiro, levando a uma abordagem mais cautelosa em relação aos investimentos. Já aquelas que passaram por viuvez ou divórcio podem desenvolver uma compreensão mais profunda da importância da independência financeira, da necessidade de planejamento cuidadoso para garantir a estabilidade financeira e da urgência em empreender com equilíbrio.
A educação financeira desempenha um papel fundamental na capacitação das mulheres de qualquer idade para tomar decisões financeiras mais informadas e assertivas. Ela contribui para que as mulheres desenvolvam uma compreensão sólida de conceitos financeiros básicos, como orçamento, poupança, investimento e aposentadoria. Isso aumenta a consciência sobre a importância do planejamento financeiro a longo prazo.
Ao adquirir conhecimentos financeiros, elas podem sentir-se mais capacitadas e independentes na gestão de suas finanças. Isso é particularmente significativo, considerando as mudanças nas dinâmicas familiares e sociais. Além disso, têm contatos com ferramentas para tomada de decisões, analisar diferentes opções de investimento, compreender os riscos e benefícios, e escolher estratégias que se alinhem aos seus objetivos financeiros e compreender o mundo dos negócios para empreender.
As mulheres não podem ter receio em se tornarem uma empreendedora e adquirir conhecimento em finanças. Obstáculos sempre surgirão e fazem parte do cotidiano. O importante é ser resiliente e entender que por trás de cada problema surgem aprendizados e vitórias. Desafios são para ultrapassá-los, Mulheres.
(Paula Sauer é economista, especialista em educação financeira e psicologia econômica, professora de Economia Comportamental na ESPM)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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