Nos últimos anos, a preparadora de líderes e empresários Olga Curado auxiliou três políticos a se elegerem: Lula; o presidente do Uruguai, Yamandú Orsi; e o primeiro-ministro de Portugal, Luís Montenegro. Sua arma no treinamento de comunicação: o aikidô. Ela faz parte de um time exponencial de mulheres que, com objetivos diferentes e por razões diversas, adotaram as artes marciais como esporte e filosofia de vida.
“Sabemos que o número de mulheres praticantes de artes marciais está crescendo, mas não temos números específicos no Comitê Olímpico Brasileiro”, diz Mariana Melo, gerente de planejamento esportivo do COB, ex-atleta de judô.
“Quando comecei, era raríssimo as meninas irem em academias de judô. Hoje, as mulheres do Brasil têm sido, inclusive, mais vitoriosas do que os homens em competições internacionais. Em 2018 formamos um núcleo específico para mulher no esporte no COB porque entendemos que, estrategicamente, era uma área que precisava de atenção especial.”
Agora, as mulheres estão em todas. No taekwondo, muay thai, boxe, aikidô e budokon. Embora a tendência do momento seja o muay, Rodrigo Ruiz, treinador de atrizes, modelos e outras celebridades, prefere ser mais preciso: o que as mulheres mais buscam atualmente é um treinamento funcional combinado a luta para ganhar condicionamento físico e tonificar os músculos, que envolve exercícios cardiovasculares e flexibilidade.
Ou seja, uma espécie de luta funcional. “O muay é uma modalidade totalmente diferente disso que a gente faz. São só os golpes que a gente usa”, diz.
Ruiz trabalha basicamente como personal trainer em atendimentos individuais. A procura tem sido tanta, que ele planeja abrir uma academia no segundo semestre. Será no bairro dos Jardins, em São Paulo. Ainda sem nome, terá foco em luta e treinamento. Ao falar do aumento da procura do interesse feminino, avalia que a mulher sente vontade e não esconde mais isso.
“O mundo, meio machista, não permitia à mulher um lugar para lutar. Elas já treinavam, mas era um mercado muito fechado. Tudo isso é um pouco consequência do trabalho que a gente vem fazendo, de ir na casa das pessoas, tomar muito cuidado para não machucar”, diz. “A mulher ganha autoconfiança, aprende a se defender, define o corpo, pode emagrecer e ter uma qualidade de vida melhor.” Segundo o treinador, as redes sociais ajudaram a difundir o gosto feminino pela luta.
Ruiz tem 42 anos, é ex-lutador de MMA e praticante de artes marciais há 26 anos. Dá aula numa academia, mas seu forte são os treinamentos individuais. Na sua carteira de clientes, de 15 anos para cá, 90% são mulheres. A média da faixa etária de suas alunas é de 30 anos a mais de 60 e o preço da aula de 50 minutos é R$ 450. A maioria pratica duas vezes por semana. Mas a empresária Gabriela Silvarolli, dona da Corello, rede de sapatos e acessórios, gosta de treinar três vezes por semana.
Os treinos acontecem na pequena academia que montou no jardim de sua casa no Morumbi, onde vive com a mãe, com quem trabalha, ou no gramado ao lado da piscina. O jardim tem espreguiçadeiras e móveis de vime com almofadas em tons de azul e branco. Os cachepots seguem as mesmas cores e envolvem flores amarelas.
Ela desce descalça, vestida com legging e top cinza chumbo, com os cabelos louros presos na altura da nuca. Devagar, enrola uma bandagem no pulso e se paramenta com a caneleira e coloca as luvas. “Eu gosto de lutar mesmo. Brinco dizendo que essa moda do muay não é bem assim: as celebridades não lutam, fazem thai fit, que não é luta, apenas um exercício que virou febre comercial. Na verdade é um exercício aeróbico que simula luta e é mais para perder calorias.”
Silvarolli tem 28 anos e é da quarta geração da família fundadora da Corello. A empresa completou 60 anos em 2024 e tem 28 lojas entre São Paulo, Brasília, Goiânia e Belo Horizonte. Lutar para ela é algo que ajuda na jornada de trabalho.
“Quando eu tinha 13 anos, meus irmãos começaram a praticar luta, e eu achava o máximo. Estava no curso de balé e pedia: ‘Mãe, quero fazer luta, quero fazer luta’. Insisti até ela deixar, desde que eu continuasse com o balé. Nunca mais parei com o muay.”
Um dos motivos que a levou a treinar foi a defesa pessoal. “Eu era muito delicada, muito menina, e senti que a luta desenvolveu meu lado mais forte.” O muay também a faz ficar 100% concentrada. “Você precisa estar com a cabeça ali, então parece que é um tipo de meditação. As pessoas falam de descarga de adrenalina, de raiva. Não sinto isso.” As informações são do jornal Valor Econômico.