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Por Redação O Sul | 29 de junho de 2015
Aparar arestas e reaproximar Brasil e Estados Unidos. Com essas duas pautas primordiais, a presidenta Dilma Rousseff será recepcionada pelo colega norte-americano Barack Obama com um jantar na Casa Branca, nesta segunda-feira. O encontro, um dos pontos altos da visita oficial iniciada no sábado pela petista, deveria ocorrer em outubro de 2013, mas acabou cancelado em meio à revelação do ex-analista Edward Snowden, da NSA (a agência nacional de segurança dos EUA), de que ela estava entre os alvos da espionagem de Washington.
“Nossa expectativa é muito boa”, declarou Dilma na noite de sábado, no saguão do Hotel St. Regis, em Nova York. A manifestação foi rápida e ela não parou para conversar com a imprensa. A comitiva é integrada pelos ministros Joaquim Levy (Fazenda), Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Armando Monteiro (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), Mauro Vieira (Relações Exteriores), Jaques Wagner (Defesa), Nelson Barbosa (Planejamento), Ricardo Berzoini (Comunicações), Kátia Abreu (Agricultura), Renato Janine (Educação) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente). Participa, ainda, o assessor presidencial para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Desde 2013, ela esteve no país por duas vezes, mas para participar da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). A crise de confiança entre os dois países tem sido superada de forma gradual, principalmente após uma conversa entre Dilma e Obama, em abril deste ano, durante a Cúpula das Américas no Panamá. “A visita indica o quanto conseguimos virar a página e estamos avançando”, avaliou o assessor de Segurança Nacional Ben Rhodes.
Não se espera de Obama, entretanto, um pedido formal de desculpas pelo incidente de arapongagem: essa não é uma prática usual e, na avaliação da Casa Branca, poderia truncar a superação das tensões. “Existe um grande potencial para se elevar a nossa relação a novos níveis, nas mais diferentes áreas”, estima Rhodes.
Especialistas norte-americanos calculam que Brasil e Estados Unidos trocam 100 bilhões de dólares anuais em comércio, o dobro do verificado dez anos atrás. Prevêem, ainda, que esse montante pode dobrar novamente na próxima década.
Novo encontro
Na terça-feira, ambos voltarão a se reunir para debater comércio, defesa, educação, ciência, tecnologia e inovação. Obama também pretende falar sobre mudanças climáticas, pois o Brasil ainda não formalizou o seu compromisso com a redução das emissões de carbono a partir de 2020.
Considera-se que esse seria um passo decisivo para o País, antes da cúpula da ONU sobre clima, que se realizará em dezembro em Paris (França). A importância de um acordo desse tipo motivou, inclusive, um telefonema a Dilma, na quinta-feira, pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Quanto à política internacional, os Estados Unidos já manifestaram o seu interesse em discutir formas de ampliar as viagens e o turismo entre os dois países. Para isso, não descartam a hipótese de entrada do Brasil no programa de isenção de vistos pelo Departamento de Estado norte-americano. Outros tópicos poderão ser os avanços nas relações com Cuba e a situação na Venezuela.
Empresariado
No domingo, um encontro com empresários em Nova York marcou o cumprimento do primeiro compromisso oficial da comitiva brasileira. Em entrevista coletiva logo depois do evento, o ministro do Desenvolvimento, Armando Monteiro, defendeu a necessidade de envolvimento do setor privado para o aumento do fluxo comercial entre os países. “Isso não se estabelece apenas por meio do diálogo entre os governos, mas também quando as empresas se inserem e se engajam efetivamente no processo.”
Nesta segunda-feira, antes de embarcar para Washington, a presidenta voltará a conversar com representantes do empresariado. Também está prevista uma reunião com o consultor e ex-secretário de Estado Henry Kissinger e a presença no encerramento de um simpósio sobre oportunidades de investimento na área de infraestrutura no Brasil. O roteiro será concluído, quarta-feira, na cidade de São Francisco.
Denúncias
A viagem ocorre em momento conturbado no Brasil. Em matéria publicada nesse fim de semana, a revista Veja lista os nomes de 18 políticos supostamente mencionados, sob delação premiada, pelo dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiários de dinheiro do esquema de corrupção na Petrobras. Entre eles estariam os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva (Comunicação Social). (Marcello Campos com agências)