Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de junho de 2021
O diretor do Instituto Butantan lamentou o comportamento negacionista.
Foto: DivulgaçãoEm entrevista à imprensa nesta sexta-feira (18), o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, lamentou o fortalecimento do “movimento negacionista” liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, ainda mais em um país duramente atingido pela pandemia. O Brasil se aproxima de 500 mil mortes por coronavírus.
“Nunca houve uma mortalidade tão alta no Brasil e parece que as pessoas estão brincando com essa realidade”, disse o médico e pesquisador, que desde 2017 está à frente de uma instituição que se tornou referência na América Latina e atualmente é responsável pelo produção local da CoronaVac, a vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac.
Covas lembrou que, ao contrário de outros países, a taxa de transmissão no Brasil continua em níveis elevados e alertou que não é hora de baixar a guarda, apesar de Bolsonaro ter proposto recentemente o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras para aqueles que já foram vacinados ou infectados com o vírus.
“A pandemia está se acelerando e, por isso, neste momento temos que reforçar as medidas de restrição, o uso de máscaras, o distanciamento social (…) Não se compara com nenhum outro país que tenha relaxado”, declarou.
O controle da crise sanitária no Brasil, segundo Covas, vai depender agora da aceleração do processo de vacinação, por cuja demora culpou tanto o governo Bolsonaro, pela indefinição na hora de fechar contratos com empresas farmacêuticas, quanto a Anvisa, pela demora na aprovação do uso emergencial da CoronaVac.
“Se esses aspectos fossem priorizados, o Brasil poderia ter sido um dos primeiros países do mundo a iniciar a vacinação”, destacou.
“A falta de vacinas tem impacto na progressão das mortes e internações hospitalares. Quanto mais tempo demora para vacinar a população adulta, que é prioritária, mais tempo vai demorar para controlar o aspecto mais nefasto da pandemia: as mortes e a demanda do sistema hospitalar”, explicou.
O atraso na produção de vacinas pelo Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), responsável pela fabricação local da AstraZeneca, também se deve à escassez do IFA, matéria-prima essencial para os imunizantes e que é importada da China.
Nesse sentido, Covas também apontou o dedo para Bolsonaro, que já fez várias críticas ao país asiático, e ressaltou que suas declarações prejudicam a oferta do componente.
“Óbvio que prejudica, cria confusão, cria dificuldades na própria burocracia do governo chinês para liberar”, frisou.
Até o momento, 28% da população foi inoculada com a primeira dose da vacina e pouco mais de 11% recebeu o esquema completo no Brasil, o segundo país com mais mortes causadas pelo coronavírus, atrás apenas dos Estados Unidos.
Apesar da lentidão, o diretor do Butantan, instituto vinculado ao governo de São Paulo, disse confiar em uma aceleração do processo de imunização a partir do próximo mês, já que entre julho e setembro o governo brasileiro espera receber 180 milhões de vacinas, incluindo novos lotes da CoronaVac.
No total, o Butantan vai entregar 100 milhões de doses ao governo federal e outras 30 milhões ao governo de São Paulo. A partir daí, segundo Covas, o instituto terá liberdade para atender outros países, como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, com os quais já começaram os contatos.
Além da CoronaVac, o Instituto Butantan está desenvolvendo a ButanVac, a primeira vacina contra a covid-19 totalmente produzida no Brasil e cujos testes em humanos estão programados para começar neste mês.