É mau sinal que o total de inscritos e de participantes no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em queda livre nos últimos anos, mais uma vez tenha ficado abaixo dos números registrados em 2009, quando o exame virou um grande vestibular para as universidades federais. O fato de que menos gente se mostre disposta a tentar uma vaga no ensino superior reflete problemas de todo o tipo. E em nada contribui para que o País aumente a escolaridade da população.
Por óbvio, os estragos causados pelo prolongado fechamento das escolas na pandemia de covid exigirão um esforço de recuperação muito maior do que o feito até aqui. A geração de alunos que estavam matriculados no ensino médio em 2020 e 2021, e isso se aplica mais ainda a estudantes da rede pública, saiu enormemente prejudicada.
Enquanto seus colegas de ensino fundamental terão mais anos de escola pela frente − e, assim, a oportunidade de recompor aprendizagens −, os alunos do ensino médio atingidos em cheio pela interrupção do ensino presencial na pandemia já deixaram a escola ou estão em vias de concluir o último ano letivo. Com a aprendizagem pífia que tiveram na maior parte do ensino médio, não é de estranhar que muitos nem sequer tenham cogitado fazer o Enem.
A queda de inscritos no exame, contudo, é anterior à pandemia: de 8,7 milhões em 2014, maior número já registrado, para 3,3 milhões neste ano (em 2021, foram 3,1 milhões, a menor marca depois que o Enem substituiu os vestibulares das universidades federais). Antes disso, nesse período, a quantidade de inscrições confirmadas nunca havia ficado abaixo de 4 milhões.
Ora, mesmo fatores demográficos, como a redução do número de nascimentos a cada ano, ou o fato de que o Enem, em 2017, deixou de certificar a conclusão do ensino médio por alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) são insuficientes para justificar tamanha diminuição.
A explicação, na verdade, está também na crise econômica anterior à pandemia, agravada depois por ela, especialmente quando se tem em mente que três a cada quatro universitários no Brasil estudam em faculdades particulares. A isso se soma o encolhimento de políticas públicas de acesso ao ensino superior, como o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Financiamento Estudantil (Fies), além de menor atenção às ações de assistência estudantil, quadro que se agravou durante o governo do presidente Jair Bolsonaro.
O Brasil tem muito a avançar em termos de acesso ao ensino superior. Entre a população de 25 a 34 anos, por exemplo, apenas 23% dos brasileiros têm diploma universitário, o que corresponde a menos da metade da média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que é de 47% nessa faixa etária.
O ensino superior deveria acenar com a perspectiva de melhoria das condições de vida e de mobilidade social para jovens de todo o País. Do ponto de vista do desenvolvimento nacional, elevar a escolaridade da população abre caminho para ganhos de produtividade. O Enem abre as portas do ensino superior. Seu encolhimento é sinal de que muita coisa vai mal.