Sábado, 11 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2021
Desde que o polêmico Ernesto Araújo deixou o comando do Ministério das Relações Exteriores, em março, os diplomatas brasileiros trabalham com a clara missão de fazer um controle de danos abrangente e que permita ao País recuperar a credibilidade internacional.
Como parte desse esforço, o Itamaraty está mergulhado na preparação da presidência brasileira do G20, que começará em dezembro de 2023, no final do primeiro ano de mandato de quem for eleito em 2022. De acordo com fontes do governo federal, “será uma oportunidade única para mostrar ao mundo que o Brasil está de volta”.
Ter a presidência do G20 – hoje nas mãos da Indonésia e posteriormente com a Índia – seria “uma plataforma extraordinária para voltar a inserir o Brasil no cenário externo”, acrescentam as mesmas fontes.
Em uma agenda ainda preliminar de temas a serem defendidos pela presidência brasileira, estão questões como meio ambiente, transformação digital, medidas anticorrupção, saúde, clima e energia.
Se governos passados tiveram eventos como a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 para enaltecer o Brasil, o futuro governo terá uma série de reuniões de ministros do G20. E, como momento culminante de 2024, a cúpula de chefes de Estado e de governo do mesmo grupo.
Alívio
A saída de Ernesto Araújo e a entrada do ministro Carlos França no governo devolveram “a alma” ao Itamaraty, desabafam integrantes do corpo diplomático, falando em “off”. Eles dizem “respirar melhor” porque diplomacia foi despolitizada e membros da chamada “ala ideológica” do governo de Jair Bolsonaro praticamente saíram de cena.
O deputado federal Eduardo Bolsonaro, que deixou este ano a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, está mais dedicado à campanha de reeleição do pai. Com isso, o chanceler assumiu um controle quase total da política externa. Carlos França, que conhece e sabe lidar com os humores do Palácio do Planalto tem conseguido exercer uma “diplomacia serena e com visão de longo prazo”.
O esforço de reconstrução da imagem externa do Brasil foi evidente no envolvimento protagonístico do Itamaraty na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26).
Muitos duvidam da capacidade do governo Bolsonaro em cumprir as metas e compromissos anunciados, mas é unânime o reconhecimento ao Ministério das Relações Exteriores por ter mostrado, de novo, uma diplomacia profissional, apegada às tradições do Itamaraty.
“É bom lembrar que nenhum representante do G20 veio à posse de Bolsonaro”, cita o professor de Relações Internacionais Mauricio Santoro, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “A guinada da política externa é real, e veio depois da derrota de Donald Trump nos Estados Unidos e, também, de Benjamin Netanyahu, em Israel.”
Ainda conforme Santoro, “a visão negativa sobre o Brasil se deve ao tratamento do meio ambiente, ao comportamento do governo na pandemia e ao declínio da democracia no país”.
Conselho de segurança
Em janeiro de 2022, o Brasil assume novamente uma vaga rotativa no Conselho de Segurança da ONU, de onde está ausente desde 2010, outra oportunidade que o Itamaraty de França aproveitará na cruzada pela reinserção do Brasil na comunidade internacional, ainda sob Bolsonaro.
A presença no conselho permitirá, assegura Barbosa, “fazer algumas correções e voltar a defender posições tradicionais do Brasil na ONU, entre elas a de não intervenção”.
Os novos ares que se respiram no Itamaraty permitiram a reaproximação do Brasil com países vizinhos e, em geral, a preservação da diplomacia em momentos de extrema polarização política, dentro e fora do Brasil.
A escolha do País para presidir o G20 a partir de dezembro de 2023 (os mandatos são de um ano) ocorreu na reta final da gestão de Ernesto, mas fontes do governo confirmaram que o trabalho feito nos últimos meses, sem condicionamento políticos e ideológico algum, não teria sido possível sem a mudança de chanceler.
Se a participação de Bolsonaro na última cúpula do G20, em Roma (Itália), deixou um sabor amargo, o Itamaraty aposta em transformar a presidência brasileira em uma plataforma de projeção global. No evento, confirmaram fontes que participaram da programação, “Bolsonaro não procurou fazer muitos contatos, nem foi procurado”.