O diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre, Maurício Loss, avalia como positiva a decisão do prefeito Sebastião Melo em determinar a abertura de investigação sobre supostas falhas no sistema utilizado pelo órgão para viabilizar o escoamento da enchente. Segundo ele, a iniciativa ajudará a esclarecer a situação.
Em entrevista nesse domingo (26) ao grupo jornalístico GZH, ele disse que os resultados poderão “desmistificar” informações sobre o assunto. A referência é alusiva aos questionamentos sobre a atuação do poder público municipal na prevenção e combate à catástrofe causada pelo excesso de chuvas, e que teve nos problemas envolvendo casas de bombeamento um principais motivos de críticas.
“Acredito que o objetivo [da apuração] é justamente mostrar à sociedade que não houve negligência por parte do Dmae, por ser um processo que o Dmae tomou conhecimento há apenas cinco meses e que tramitou por áreas pertinentes aos projetos (…)”, frisou. “Não se trata de buscar culpados, mas comprovar que não houve tempo para qualquer medida nesse curtíssimo tempo, pois sempre se requer projeto, orçamento, licitação, contratação.
Investigação
Denominada ‘investigação preliminar sumária” (IPS), a apuração determinada por Sebastião Melo sobre supostas falhas que causaram ou agravaram as enchentes e seus impactos na cidade foi comunicada em nota oficial divulgada no sábado (25). O foco são “eventuais problemas em providências a partir de relatório de engenheiros do Departamento sobre as estações de bombeamento de água pluvial”.
Ressalta, ainda, que a medida tem caráter de urgência e deve abranger todos os processos relacionados ao assunto. No dia anterior, ele havia dito mais uma vez que sua administração não esperava um acumulado de chuva tão alto em poucas horas, na semana passada.
A precipitação pluviométrica voltou a alagar bairros já atingidos (Menino Deus, por exemplo) e ainda causou inundação em áreas até então não alcançadas pela água, como o bairro Cavalhada (Zona Sul) tinham sido atingidas pela água. População, imprensa e especialistas questionaram a demora em alertar a população e anunciar medidas para evitar riscos.
Ele também rebateu que as autoridades soubessem das previsões da meteorologia, pois supostamente não tinham como saber que a chuva ocorreria com tamanha dimensão e rapidez: “Tomamos as decisões quando tínhamos elementos para tomá-las. Não teve surpresa, porque eu sabia da chuva. Mas o sistema meteorológico gaúcho tem precariedades”.
O prefeito acrescentou que o governo do Estado está contratando um novo sistema de monitoramento, com maior precisão e que será compartilhado com todas as 497 cidades gaúchas: “Há uma licitação a caminho, isso não deve demorar”.
Sobre a pane em casas de bombeamento e drenagem, Melo voltou a contemporizar: “O sistema de proteção de cheias funcionou parcialmente e muito bem. Se não fosse por isso, a situação da cidade seria muito mais grave. Então não dá para desconstruir o sistema, tem que corrigir”.
Ele reiterou, ainda, a postura de dividir a responsabilidade com os prefeitos anteriores de Porto Alegre: “Sou o décimo-terceiro chefe do Executivo municipal desde 1969, então a gente precisa discutir o histórico desse processo. Todos os meus antecessores nesse período fizeram sua parte, porém o sistema não foi revisto”.
Operação bota-fora
Já em declaração ao jornal “O Globo”, ele admitiu ter mudado seu posicionamento em relação à diretriz para que os ocupantes de residências e empresas invadidas pela água depositassem o entulho na calçada em frente a cada local – medida que motivou duras críticas devido a problemas como a dificuldade dos garis em recolherem tudo antes da nova ocorrência de chuva, que acabou espalhando os resíduos pela cidade e entupindo bueiros, dentre outros transtornos.
“Quando há um erro de comunicação, sou o primeiro a reconhecer”, afirmou. “Nos bairros da operação bota-fora, talvez o ideal fosse um aviso para evitar naquele dia. Mas também havia entulho de antes. E não dá para parar o trabalho cotidiano, são mais de 800 garis nessas áreas. O custo mínimo para limpar a cidade é de R$ 100 milhões, dos quais R$ 6 milhões já vieram do governo federal e estamos pedindo mais R$ 30 milhões. A iniciativa privada ajuda como pode. Esse trabalho não vai terminar da noite para o dia”.
(Marcello Campos)