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Diretora de Inteligência do Ministério da Justiça do governo Bolsonaro desejava barrar eleitores de Lula

Mapa com concentração de eleitores de Lula foi utilizada em reunião sobre blitze da PRF. (Foto: Reprodução/PF)

Diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, Marília Alencar manifestou preocupação em troca de mensagens obtidas pela Polícia Federal (PF) com a situação do policiamento em cidades onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido mais bem votado no primeiro turno das eleições.

Em um grupo de Whatsapp intitulado “OFF”, a delegada da PF discutia junto com outros dois colegas a elaboração de relatórios sobre a distribuição de efetivo de policiais federais nos estados após o primeiro turno das eleições de 2022, quando o presidente Lula terminou com mais votos que Bolsonaro.

Dentre as conversas, no dia 13 de outubro, ela enviou uma mensagem no grupo afirmando que na cidade de Belford Roxo, no Rio de Janeiro, havia necessidade de reforçar a PF, porque o prefeito era aliado de Lula. Ela se referia a Waguinho (MDB), uma das principais lideranças evangélicas que apoiou o petista.

“Belford Roxo o prefeito é vermelho precisa reforçar a pf. Menos 25 mil votos no 9”, escreveu. A PF destacou que “nove” é uma referência ao presidente Lula.

Em outro trecho, a PF aponta que “Marília demonstra intensa preocupação com as cidades em que o então candidato Lula teve maior número de votos e com o preenchimento das planilhas”.

No dia 17 de outubro, a delegada enviou mensagens no grupo dizendo que em Pelotas (RS), Lula obteve 52% dos votos. “Cara, os caras tem que rodar essas bases (…) POA [Porto Alegre] tb foda”, escreveu. No primeiro turno, Lula obteve 49% votos na capital do Rio Grande do Sul.

Ao longo dos dias que antecederam o segundo turno, os três integrantes do grupo “OFF” discutiam a elaboração de relatórios sobre o efetivo policial de diversos estados. “Ministro disse que quer isso para ontem”, escreveu Marília no dia 14, dizendo em seguida que Leo Garrido faria “a Bahia”. Na época, ele ocupava o cargo de substituto eventual do Diretor de Operações da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça.

Articulação nacional

As conversas estão no inquérito da PF que indiciou Marília, o ex-ministro Anderson Torres, o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal (PRF) Silvinei Vasques e outros três delegados da PF. Eles são suspeitos de planejar e executar ações com o objetivo de “dificultar, com emprego de violência física e psicológica, o exercício de direitos políticos de pessoas nordestinas”.

A investigação foi aberta depois que as blitzes em rodovias nos estados do Nordeste foram amplamente noticiadas, com apreensão de ônibus e veículos que transportavam passageiros, impedindo ou dificultando o trânsito de eleitores no segundo turno do pleito de 2022.O relatório da PF aponta que houve uma articulação para distribuir efetivo de policiais em estados onde Lula era mais bem votado. O objetivo com a operação, conforme o inquérito, era dificultar que os eleitores do atual presidente votassem no segundo turno.

Em depoimento em outubro do ano passado, Marília afirmou que Torres chegou a pedir especificamente dados sobre a distribuição do efetivo da PF na Bahia, estado que elegeu Lula com 72% dos votos. Ela também afirmou que o ex-ministro demandou um reforço do efetivo das forças de segurança nas ruas após o primeiro turno das eleições presidenciais, em 2022. Torres, por sua vez, negou em depoimento que tenha solicitado mudança na distribuição do efetivo da polícia.

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