Terça-feira, 04 de março de 2025
Por Redação O Sul | 3 de março de 2025
A crise instaurada pelo bate-boca entre os presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, na Casa Branca, não preocupa apenas a Europa. Há consequências para todo o planeta, avaliam analistas políticos internacionais.
Na sexta-feira passada (28), Donald Trump e seu vice J. D. Vance mostraram, em alto e bom som, que a diplomacia da maior potência econômica e militar é norteada, mais do que nunca, a lei do mais forte. Volodymyr Zelensky que o diga.
A discussão chocou pelo tratamento dado a um chefe de Estado aliado e invadido pela Rússia, inimigo histórico dos Estados Unidos. Foi uma quebra de protocolo inédita, de acordo com o professor de relações internacionais, Vitelio Brustolin:
“Nunca houve um embate público transmitido ao vivo pela imprensa entre chefes de Estado. Tudo isso é inédito tanto na história das relações internacionais quanto na própria história norte-americana”.
O professor Leonardo Trevisan avalia que Trump mandou um recado para a Europa quando pressionou Zelensky a assinar o documento que permitiria a exploração de minerais raros em território ucraniano e disse: “Ou vocês fazem um acordo ou estamos fora”.
A expressão ‘nós estamos fora’ tem um amplo espectro e alcança, principalmente, a Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte], que tem um princípio básico: quando um país-membro do grupo é atacado, todos os outros são. Os Estados Unidos estão avisando a Europa, portanto, que essa era acabou.
Principal beneficiada nesse cenário, a Rússia se fortalece. “Os europeus veem as ações de Trump como favorecendo Putin nesse momento. Ou seja, criando condições para uma nova ocupação de território na Ucrânia. E não acreditam que a guerra acabaria na Ucrânia”, pondera Brustolin.
Ele acrescenta: “A forma como Trump vê a paz na Ucrânia não é a forma como os europeus veem. Trump acredita que a paz precisa ser feita a qualquer preço. Mas a paz a qualquer preço leva a outras guerras.”
Bom para a China
Os dois professores concordam que a guinada nas relações internacionais torna os Estados Unidos um parceiro menos confiável e que isso poderia favorecer a China. Mas, para eles, Trump usa a aproximação com o presidente russo Vladimir Putin e as tarifas comerciais impostas a países aliados como armas de negociação e intimidação.
“Putin serve perfeitamente aos interesses do Trump de assustar a Europa. Vamos usar uma expressão bem brasileira: de manter a Europa na coleira. A Europa não vai fazer negócio com a China, mesmo se isso for muito valioso para ela, mesmo se for o melhor negócio”, destaca Leonardo Trevisan.
A conclusão é de que a mudança na diplomacia americana, focada nos próprios interesses, enfraquece os organismos internacionais e ameaça a segurança global.
“Não é uma nova forma de diplomacia. É uma diplomacia do século 19, a diplomacia dos mais fortes, a diplomacia pré-organizações internacionais para prevenção das guerras. Toda essa instabilidade pode gerar, sim, uma corrida armamentista e o aumento da insegurança global”, conclui Brustolin. (com informações de O Globo)