Terça-feira, 12 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 9 de novembro de 2024
Após cinco anos de queda e depois de atingir a mínima histórica no ano passado, o diferencial da dívida do Brasil para os demais países emergentes deve voltar a subir em 2024 e prosseguir nesse movimento ao menos até o fim do mandato atual de Lula.
Como proporção das respectivas medidas para o Produto Interno Bruto (PIB), a dívida bruta brasileira deve fechar este ano 19 pontos percentuais acima da média dos demais emergentes, segundo as projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em 2023, a dívida brasileira estava 17,2 pontos acima, o valor mais baixo da série neste século.
Até 2026, a diferença entre a dívida do Brasil e demais emergentes deve subir para 22,4 pontos. Ela deve ficar praticamente estável em 2027 (22,3 pontos) e desacelerar para 21,5 pontos em 2028 e 19,9 pontos em 2029. Ainda assim, a dívida brasileira, que representava 788% do valor médio da dívida dos emergentes em 2023, deverá representar 859% em 2029, horizonte até o qual o FMI tem projeções.
“Na margem, a deterioração do resultado primário do Brasil e o aumento da dívida do país destoam como um dos piores”, afirma Solange Srour, diretora de macroeconomia para Brasil do UBS Global Wealth Management.
Pedro Schneider, economista do Itaú Unibanco, diz que a comparação internacional foi benigna para o Brasil de 2019 a 2023, o que, junto com o retorno de taxas de crescimento maiores do PIB do país, provavelmente, diz, motivou a elevação da nota de crédito do Brasil pela Moody’s em outubro deste ano.
“No nosso cenário, a diferença da dívida do Brasil para o mundo deve continuar aumentando. Achamos que as agências de risco, agora, estão mais corrigindo o que houve até 2023 do que incorporando um cenário prospectivo de estabilização”, afirma Schneider.
Nos anos da pandemia, diz, o Brasil conseguiu conciliar melhor do que outros países a questão humanitária com a fiscal. “Houve uma deterioração fiscal global, e o Brasil piorou menos que o resto do mundo. Mas, agora, a gente está voltando a piorar mais”, afirma.
Livio Ribeiro, sócio da consultoria BRCG e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), pondera que cada país contabiliza a sua dívida de um jeito diferente e que o próprio FMI calcula a dívida do Brasil diferentemente do Banco Central. “Independentemente disso, fato é que o Brasil gasta mais do que arrecada, sua dívida sobe e o Brasil também se endivida em um ritmo mais rápido”, afirma Ribeiro.
Muitas vezes, o investidor estrangeiro olha para o passado recente ou para o curtíssimo prazo e, por isso, tem a percepção de que o Brasil não tem um problema fiscal tão grande, diz Schneider. “A diferença de nível da dívida do Brasil para a de outros pares está nas mínimas. Mas, o que chama a atenção na ponta – e exatamente por isso é preocupante – é que essa diferença está voltando a aumentar, a despeito do nosso crescimento super forte, o que sugere que parte desse movimento é responsabilidade do próprio plano fiscal.”
Estimativa
O FMI estima que a dívida brasileira passará para 87,6% do PIB este ano, vindo de 84,7% em 2023. Até 2029, chegaria a 97,6% do PIB, uma escalada, em cinco anos, de dez pontos percentuais. A dívida dos emergentes (exceto Brasil) deve ter aceleração bem mais suave entre 2023 e 2024, de 67,5% para 68,6% do PIB, e avançar um pouco menos até 2029 – 9,1 pontos para 77,7%.
“A expectativa de aumento da dívida do Brasil também é ‘outlier’ [atípica]. Essa história de que todo mundo tem dívida pior… mas a gente tem uma derivada pior. Essa é a exigência do mercado com reformas estruturais, que o ritmo do crescimento diminuia”, diz Srour.
O movimento esperado pelo FMI para a dívida brasileira é contrário ao estimado para os pares da América Latina, cuja dívida deve cair para 59% do PIB da região em 2024, vindo de 67% em 2023, e até 2029 ainda ceder para 53% – as previsões não consideram a Venezuela, além do próprio Brasil.
“Com essa diferença de dívida do Brasil em relação aos emergentes voltando a aumentar, é difícil imaginar que as agências [de risco] farão movimentos sucessivos de ‘upgrade’”, diz Schneider.