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Colunistas Do Alabama à Rua dos Protestantes

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Cidades inteiras, ou bairros inteiros, no Brasil, tornaram-se entulhos habitados, catacumbas, zonas de guerra, cracolândias ou meretrícios à céu aberto. Como resposta surgiram bairros planejados, cheios de casas desenhadas, ruas pavimentadas, organização interna, onde os moradores são mais seletos. Há segurança, portaria, câmeras. Geralmente em áreas afastadas dos centros das cidades, nos seus arredores. Mas há quem veja, nessa resposta natural à cracolandização das cidades, uma opressão. Raul Justes, do UOL, escreveu um artigo onde chama esses bairros planejados de “subúrbios Alabama”, em referência à segregação racial naquele estado americano, bem marcante nos anos sessenta. Nas suas palavras: “Quem só pensa em si e em seu bem-estar portas para dentro, e caga [sic] para o “resto” da cidade e pro bem-estar coletivo…”

A crítica de Raul Justes é à falta de estrutura urbana nesses locais. O serviço de ônibus não chega até lá, por exemplo (o que prejudica os empregados domésticos), às vezes é necessário que o poder público construa avenidas para que os moradores tenham acesso mais fácil ao centro etc. Esse tal “bem-estar coletivo” do qual ele fala, eu descrevo: regiões inteiras dominadas pelo tráfico, invadidas pelas cracolândias, pelos bailes funks itinerantes (que entram as madrugadas até nos dias de semana), o estabelecimento de zonas do baixo meretrício, a ocupação desenfreada por moradores de rua, a sujeira, o barulho, a poluição… ou seja, para o sr. Raul Justes, se tu não quiseres que a tua filha, ao sair da porta de casa, veja um mendigo com o mangalho de fora, a urinar prazenteiro as cachaças de ontem, é porque tu és um racista, um fascista, um opressor afinal. Membro mais seleto da United Klans of America, organização que perseguia negros no Alabama em apartheid.

De onde surgem essas ideias absurdas? Das universidades e do tesão que o brasileiro médio tem pelo título universitário. Embriagados pelo prestígio social que a tese inédita apresentada traz, o doutoramento, os aprendizes da criatividade do mal engendram qualquer tipo de bobagem – de preferência que conte a história de um mocinho e um bandido, como nas boas histórias de Hollywood – para ganhar os afagos dos outros membros da “bolha”. O importante é a inovação. Eu convido o sr. Raul a visitar a rua dos Protestantes, em São Paulo, atualmente inabitável porque os cracudos decidiram que lá seria seu novo lar. Cheiro de urina, fezes, lixo, detrito, barulho, furtos, assaltos com facas: eis as vítimas dos “subúrbios Alabama” tão racistas e excludentes de que fala o sr. Raul.

Essa metáfora para atingir os cidadãos de classe média e alta que têm condições de se afastarem do mal dos centros urbanos é infeliz: são, na verdade, os nossos maiores empregadores e maiores pagadores de impostos. Do outro lado, há os jovens da geração que não estuda e não trabalha, envolvidos com o tráfico às vezes, promovendo bailes funks nas ruas do centro em dias de semana, os furtadores, as quadrilhas de arrastões, as prostitutas que desfilam desinibidas as suas volúpias. Ninguém é Santo Antônio para morar em um lugar assim por estoicismo. O êxodo dos centros urbanos é uma resposta natural a essa poluição e continuará acontecendo. O que tem de cessar, por certo, é esse nosso costume infantil de dividir a humanidade em mocinhos e vilões.

(Matheus Pitaméia, advogado – matheus.pitameia@edu.pucrs.br)

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