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A oito meses de deixar sua cadeira de comando, o presidente da Câmara dos Deputados tem feito gestos, nos bastidores, para agradar a todos os espectros políticos

Quando os deputados retornarem das férias, em agosto, ele anunciará quem será o nome ungido para sua sucessão. (Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados)

Do PT, ao PL, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), está concedendo poder para construir alianças e eleger seu sucessor. A oito meses de deixar sua cadeira de comando, Lira tem feito gestos, nos bastidores, para agradar a todos os espectros políticos da Casa. Além de centralizar há tempos a distribuição das emendas parlamentares de comissão, que representam R$ 15 bilhões neste ano, Lira montou um modelo inusitado para discutir a regulamentação de dois projetos da reforma tributária.

A estratégia contempla partidos com os quais ele quer formar uma ampla aliança em torno do candidato que apoiará para o seu posto. A lista vai do PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao PL do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O calendário estabelecido por Lira prevê a votação da reforma tributária no plenário da Câmara pouco antes do recesso parlamentar, que começa em 18 de julho. Quando os deputados retornarem das férias, em agosto, ele anunciará quem será o nome ungido para sua sucessão.

A portas fechadas, Lira observa que só aposta para ganhar e orientou os mais próximos a saírem a campo para tentar consolidar suas candidaturas até lá.

A eleição que vai renovar os comandos da Câmara e do Senado está marcada para fevereiro de 2025, mas, publicamente, Lira desvia do assunto para não abreviar o seu mandato. “Senão vocês vão dizer que meu café já está frio…”, diz ele aos jornalistas.

Na reunião que teve com Lula, em abril, Lira se comprometeu a bater o martelo sobre o nome preferido para a disputa somente após submeter a indicação ao crivo do presidente. O problema será unir o PT e o PL na mesma coalizão.

Bolsonaro, por exemplo, só quer avalizar a candidatura daquele que apoiar o projeto sobre sua anistia política. Inelegível até 2030, o ex-presidente se reuniu na semana passada com o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), em Brasília. A pauta da anistia é vista com bons olhos por parlamentares do grupo de Elmar.

Por enquanto, o deputado oferece ao PL – que é a maior bancada, com 95 integrantes – a primeira vice-presidência da Câmara, caso vença a disputa, além de comissões de destaque. Mas tudo depende da formação do bloco e nenhum pedido é descartado de antemão.

Além de Elmar, há outros três nomes em campanha antecipada para a vaga de Lira: Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antônio Brito (PSD-SP) e Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Existe, porém, uma lista de pré-candidatos que não apareceram ainda, mas podem surgir na última hora, como Doutor Luizinho (PP-RJ), Hugo Motta (Republicanos-PB) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

No último dia 21, Lira instalou dois grupos de trabalho que vão analisar os projetos de regulamentação da reforma tributária, cada um deles formado por sete parlamentares de partidos diferentes, mas sem um único relator.

O primeiro grupo vai tratar do novo sistema, com o funcionamento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que unificará cinco tributos e o Imposto Seletivo, ou “do pecado”, por incidir sobre bens e serviços nocivos à saúde e ao meio ambiente.

O segundo colegiado debaterá a atuação do Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e da distribuição das receitas de Estados e municípios, projeto que será enviado nesta semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

“Não tem sentido essa divisão”, disse o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), que está no segundo grupo de trabalho. “Nesse modelo que o Lira montou, o primeiro grupo é o time A, ou seja, todo o Centrão e mais o PL, além do PT, o que dá 80% da representação parlamentar. Está claro que a lógica do Lira é se fortalecer para eleger o seu sucessor.”

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