Os dois nomes mais poderosos do Centrão mantêm uma rede de aliados em postos estratégicos de ministérios, superintendências e até de tribunais regionais eleitorais. Apesar da cobiça do grupo por mais espaço no governo Lula, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) já contam com ao menos 47 pessoas na máquina pública. Metade delas em funções que influenciam a destinação de mais de R$ 14,9 bilhões em verbas federais.
Na transição do governo de Jair Bolsonaro (PL) para a gestão petista, Lira e Alcolumbre mantiveram controle sobre cargos. Eles controlam postos-chave pelos quais escoam verbas do Orçamento federal e também as finanças de seus respectivos partidos nos Estados.
Com orçamento de R$ 189 bilhões, o Ministério da Saúde é a meta de Lira. O senador do Amapá saiu na frente do colega do Centrão e conseguiu emplacar dois ministros na transição, o que lhe garantiu mais influência nas verbas do Orçamento desde o começo do governo Lula. Com isso, a rede de aliados de Alcolumbre vai da cúpula do poder em Brasília a gestores de órgãos federais e prefeituras que serão responsáveis pela contratação de empresas e realização de serviços.
Prioridade
Alcolumbre apadrinhou o ex-governador do Amapá Waldez Góes para o comando do Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta com orçamento de R$ 11,2 bilhões. O senador também conseguiu acomodar outro aliado como número 2 da pasta. Valder Ribeiro de Moura, que havia sido diretor da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) sob Bolsonaro, virou secretário executivo do ministério.
Os aliados de Alcolumbre garantem prioridade e celeridade nas demandas do senador na Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), principal realizadora de obras do ministério. No Amapá, a estatal é chefiada por Hilton Rogério Maia Cardoso.
Fiador
O senador é ainda o fiador da indicação do correligionário Juscelino Filho na pasta das Comunicações, cujo orçamento é de R$ 2,3 bilhões. Além do ministro, Alcolumbre emplacou Tatiana Miranda na diretoria administrativo-financeira da Telebras, estatal que leva internet a diversos pontos do País. Ex-integrante da Secretaria de Administração do Amapá, Tatiana agora cuida de orçamento de R$ 862 milhões e da logística da empresa.
Nem só aliados políticos, contudo, foram espalhados por cargos públicos. O presidente da Junta Comercial do Amapá, Alberto Alcolumbre, e o presidente do conselho deliberativo do Sebrae regional, Josiel Alcolumbre, são irmãos do senador. Josiel é o primeiro-suplente de Davi. Apesar de o posto não ter remuneração, a entidade que ele controla tem orçamento de R$ 65 milhões e costuma ser alvo da cobiça de políticos por causa da capilaridade dos serviços que fomentam micro e pequenas empresas.
Família Lira
Lira, por sua vez, mantém controle sobre as esferas federal e estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Em 5 de maio, dois primos seus anunciaram uma parceria entre dois órgãos federais.
O superintendente estadual do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), César Lira, registrou o encontro com o chefe da Codevasf alagoana, Joãozinho Pereira. “Serão beneficiados milhares de agricultores, em especial os beneficiários da reforma agrária em nosso Estado”, escreveu César Lira.
A ex-prefeita de Campo Alegre (AL) Pauline Pereira, prima de Lira, assumiu a diretoria financeira do Hospital Veredas, em Maceió, em novembro de 2022. A unidade é filantrópica e recebe verba do governo federal. Em maio, o Ministério da Saúde autorizou repasse de R$ 15 milhões ao hospital. Portaria de fevereiro já havia aprovado R$ 2,3 milhões.
Somados, os recursos que, de alguma forma, estão sob a gerência de Lira e Alcolumbre superam orçamentos de ministérios temáticos do governo Lula. A título de comparação, a pasta dos Povos Indígenas tem R$ 815 milhões para 2023.
A Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU) passou a ser conhecida como a “estatal de Lira”. Com orçamento de R$ 1,3 bilhão, a empresa pública abriga parentes e aliados do deputado. O chefe, Fernando Marcondes de Araújo Leão, foi exonerado no primeiro dia do governo, mas readmitido a pedido de Lira.
Na chefia da superintendência alagoana da CBTU, o presidente da Câmara acomodou outro aliado, Carlos Ferreira Cavalcante. Ele é irmão de Luciano Cavalcante, ex-assessor de Lira investigado por suspeita de fraude na compra de kits de robótica. O controle da regional permitiu que Lira distribuísse aliados por cargos que rendem a eles R$ 128 mil por mês.