Sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 19 de dezembro de 2024
O dólar disparou em relação ao real, mais uma vez. A moeda norte-americana saltou dos R$ 5,67 registrados em 6 de novembro para a cotação recorde de R$ 6,09 na terça-feira (17), uma alta de 7,40% no curto período de um mês.
E na quarta-feira (18) a moeda voltou a abrir em alta. Logo nos primeiros minutos do pregão, por volta das 09h20, era negociada a R$ 6,12. Nas máximas do pregão de terça, a cotação passou dos R$ 6,20, e só melhorou depois de dois leilões de venda de dólares pelo Banco Central e após o indicativo de que o pacote de corte de gastos ia começar a ser apreciado pelo Congresso Nacional.
Já nessa quinta-feira (19), após bater recorde de R$ 6,30 pela manhã, o dólar arrefeceu e fechou em queda de 2,32%, cotado a R$ 6,12. A redução do valor da moeda norte-americana só foi possível graças a dois leilões de dólar realizados pelo Banco Central do Brasil (BC) para aumentar a oferta da moeda no país e conter a desvalorização do real.
Em 2023, a moeda norte-americana recuou 8,06% no ano, um marco positivo do início da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia apresentado uma nova regra de contenção dos gastos públicos e a reforma tributária. O dólar em queda foi fundamental para o controle da inflação e o início do ciclo de corte de juros.
Em 2024, o caminho se inverteu. O dólar acumula alta de 25,62% sobre o real, impulsionado pelos receios sobre a inflação, enquanto as expectativas têm piorado. Com isso, os juros do país inverteram a direção e estão em rota de aumento. E o arcabouço fiscal apresentado no ano anterior passou a ser questionado.
Não bastassem os desafios internos, entraram na conta fatores relacionados aos Estados Unidos, em que a vitória do republicano Donald Trump traz consigo uma agenda de mais barreiras comerciais ao comércio exterior e renúncias de arrecadação de impostos. As medidas têm potencial de piorar a inflação americana, de aumentar os juros por lá e dar mais força ao dólar.
Em 6 de novembro, logo após a eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, os juros futuros americanos tiveram um aumento expressivo.
Essas taxas indicam a expectativa do mercado financeiro para os juros básicos do país, definidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). São referência para o rendimento das Treasuries, os títulos públicos norte-americanos.
Esses ativos são considerados os produtos de investimento mais seguros do mundo. Quando estão em alta, portanto, atraem mais investidores estrangeiros. Em outra perspectiva: quanto maior a expectativa de juros altos nos EUA, mais o dólar se fortalece em relação a moedas emergentes, como o real.
O pano de fundo desse cenário é justamente a agenda econômica de Trump, que prometeu um forte protecionismo para a indústria nacional, com elevação de tarifas para produtos importados.
A medida, acompanhada de uma guerra comercial declarada contra a China, tem potencial para elevar a inflação no país. O resultado é uma pressão sobre banco central dos EUA, que tende a elevar as taxas de juros.
Já aliado à crescente preocupação com as contas públicas aqui no Brasil, a moeda norte-americana saltou de R$ 5,67, em 5 de novembro, para R$ 5,80, em 26 de novembro.
Já sofrendo com um dólar mais forte, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou no dia 27 de novembro o novo pacote de corte de gastos do governo federal.
A proposta confirmou a expectativa de uma contenção de gastos estimada em R$ 70 bilhões para os próximos dois anos — e de R$ 375 bilhões até 2030.
Mas houve muitas críticas ao anúncio de renúncia de receitas para isentar os trabalhadores com salário de até R$ 5 mil do Imposto de Renda (IR), uma promessa de campanha do presidente Lula.
O governo precisa reduzir os gastos porque tem uma meta de zerar o déficit público pelos próximos dois anos — ou seja, gastar o mesmo tanto que arrecada em 2024 e 2025. São as regras definidas pelo arcabouço fiscal, o conjunto de normas para controle das contas públicas.
O arcabouço também estipula que o governo deve começar a arrecadar mais do que gasta a partir de 2026, para controlar o endividamento público. Mas os investidores já não acreditam que as medidas tomadas pelo governo até aqui tenham o potencial para conter o avanço da dívida no longo prazo.
A expectativa do mercado financeiro era de que o governo mexesse em gastos estruturais nesse pacote de corte de gastos — como a Previdência, benefícios reajustados pelo salário mínimo e os pisos de investimento em saúde e educação. Mas isso não aconteceu.
Além dos ruídos — que incluem as dúvidas sobre a efetividade do pacote fiscal para conter a crescente dívida bruta do país —, cresceram os receios em relação à própria aprovação das medidas, que precisam contar com o aval do Congresso Nacional.
O mercado teme que o governo não tenha apoio suficiente para aprovar os projetos ainda este ano. Não só isso: há receios de que, mesmo confirmadas, as medidas sejam desidratadas e não gerem a economia prevista.
Esse cenário de piora das expectativas, com projeções mais pessimistas sobre a elevação da dívida bruta do país, fez o dólar subir ainda mais nas últimas semanas.
O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu em 11 de dezembro elevar a taxa Selic de 11,25% ao ano para 12,25% ao ano. Com o aumento de 1 ponto percentual (p.p.) na taxa básica de juros, o Banco Central passou a adotar uma dose mais forte para combater a inflação. As informações são do portal de notícias G1.