Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de maio de 2015
O dólar renovou nesta quinta-feira (28) seu maior nível em dois meses, acompanhando a escalada global da divisa americana em meio a expectativas de que os juros nos Estados Unidos começarão a subir ainda neste ano e preocupações com os problemas envolvendo a dívida da Grécia. Incertezas sobre o ajuste das contas públicas no Brasil também mantinham os investidores na defensiva.
A cotação do dólar à vista, referência para o mercado financeiro, avançou pelo nono dia e foi para R$ 3,172 na venda, alta de 0,31%. É o maior valor desde 31 de março, quando estava em R$ 3,203. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,60%, a R$ 3,164 –maior valor desde os R$ 3,174 registrados em 1º de abril.
“Parece que está havendo uma mudança global de patamar do dólar por causa da normalização da política monetária dos EUA. O mercado começa a achar que isso não é temporário”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O dólar teve valorização sobre 14 das 24 principais moedas emergentes do mundo nesta quinta-feira, segundo dados da Bloomberg. A divisa que mais perdeu foi o rublo russo (-1,82%), seguido pelo rand sul-africano (-0,71%). O real teve a quarta maior queda.
Para analistas, o movimento é reflexo da preparação dos investidores para o eventual início do aperto monetário na maior economia do mundo, o que pode diminuir a atratividade de investimentos em outros mercados. As avaliações ouvidas pela Folha apontam que o Federal Reserve (banco central americano) deve começar a subir o juro básico daquele país em setembro ou dezembro.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
O cenário é agravado pela perspectiva de menor intervenção do Banco Central do Brasil no câmbio. Nesta quinta, a autoridade monetária rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos de swap que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 394,9 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
FISCAL
Internamente, o ajuste para reequilibrar as contas públicas do Brasil seguem no radar do mercado. Apesar de o governo já ter vencido importantes batalhas, com aprovação de algumas MPs (medidas provisórias) nesta semana, analistas dizem que ainda há muito trabalho a fazer para que o país consiga cumprir a meta de superavit de 1,1% do PIB em 2015.
Dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira sobre o desempenho das contas do governo no primeiro quadrimestre evidenciam o desafio que a equipe econômica enfrenta. Em abril, o governo federal economizou R$ 10,1 bilhões para o pagamento de juros. Foi o melhor resultado do ano, mas 39% inferior ao saldo do mesmo mês de 2014, ano em que as contas públicas registraram um deficit inédito.
“O mercado se pergunta quando vamos começar a ver os resultados dessas medidas. Nesta sexta-feira, sai o PIB do primeiro trimestre do Brasil. Os dados devem ser fracos. Esses esforços levam um tempo para surtir efeito, precisa de alguns trimestres”, diz Elad Revi, analista-chefe da corretora Spinelli.
As dificuldades que o ministro Joaquim Levy (Fazenda) tem enfrentado para aprovar as medidas de ajuste fiscal e os boatos de divisão dentro do governo mantêm os investidores em alerta.
“A reação do mercado diante de rumores sobre a saída de Levy da Fazenda é mais aflição do que medo. Se fosse medo, teria um ‘sell off’ [venda generalizada] muito forte na Bolsa [e consequente corrida para o dólar, aumentado seu preço]”, disse Raphael Figueredo, da Clear Corretora.
“O mercado acredita na continuação do Levy no comando da Fazenda. Seria muito ruim ter, novamente, instabilidade no governo com a troca de ministros importantes. Quem iria assumir a Fazenda para refazer o programa de ajuste fiscal e convencer o Planalto?”, completou o analista.
NO VERMELHO
Com os investidores na defensiva, o principal índice da Bolsa brasileira, o Ibovespa, fechou em queda de 0,48%, para 53.976 pontos. O volume financeiro foi de R$ 5,389 bilhões. As principais Bolsas globais também caíram, refletindo a cautela com a crise grega e o possível aumento de juros nos EUA, além de o banco central chinês ter drenado a liquidez do mercado.
Os bancos, segmento com maior peso dentro do Ibovespa, pressionaram o índice. O Itaú recuou 1,18%, para R$ 35,20, enquanto o Bradesco perdeu 0,62%, para R$ 28,99. O Banco do Brasil mostrou desvalorização de 2,26%, para R$ 23,40.
Também no vermelho, a Vale viu sua ação preferencial, sem direito a voto, ceder 2,16%, para R$ 17,20. As ações da mineradora acompanhavam o declínio do preço do minério de ferro no mercado à vista na China, após a commodity atingir máxima de quase três meses na sessão anterior. O jornal The Globe Mail também informou que a Vale pode vender ativos de potássio em Saskatchewan, no Canadá.
Em sentido oposto, os papéis preferenciais da Petrobras ganharam 0,96%, para R$ 12,67. O bloco BM-S-21 foi devolvido à União pelo consórcio da Petrobras e da Galp Energia. Além disso, o jornal Valor Econômico noticiou nesta quinta-feira que a empresa pode fazer oferta pública da BR Distribuidora no segundo semestre. (Folha)