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Dólar alto provoca aumento do preço da passagem aérea

Moeda estrangeira responde por 60% dos custos das aéreas, que ainda tentam limpar balanço de prejuízos com a pandemia. (Foto: Reprodução)

Após dois anos consecutivos de queda real, o preço das tarifas aéreas tende a subir em 2025. O dólar em patamar elevado e a situação financeira ainda frágil das companhias devem pressionar o valor das passagens neste ano. Com 60% de seus custos em dólares, as empresas aéreas são diretamente afetadas pela variação do câmbio. A moeda americana passou de R$ 4,84, no começo de 2024, para R$ 6,18 no fim do ano, uma valorização de 27% em relação ao real.

As companhias também ainda estão pagando as dívidas decorrentes da pandemia. Em 2024, a Gol entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos (o chamado chapter 11), e a Azul teve de renegociar seus débitos com credores.

O analista dos setores de transporte e construção do UBS BB, Alberto Valerio, calcula que, diante desse panorama, as tarifas deverão subir pelo menos 8% para que as empresas consigam manter suas margens em 2025 – isso se houver um crescimento de oferta de assentos de 10%, conforme as próprias companhias aéreas indicaram que pretendem fazer.

“Para o consumidor, as passagens vão continuar caras. Dos custos das empresas, 60% são em dólares. O repasse vai acabar acontecendo. Se a demanda estiver aquecida, vai ser de modo quase imediato. Se não estiver, mais lentamente”, diz ele.

Ainda que tenha registrado queda real (descontada a inflação) nos últimos dois anos (-4%, em 2023, e -5,1% no acumulado de 2024 até novembro), o preço das passagens subiu, em média, 12,4% na comparação com 2019, o ano pré-pandemia. A Latam foi a empresa com maior alta real no período, de 16%. A Azul, que historicamente tem tarifas mais elevadas, aumentou seus preços em 7,4%. E a Gol, em 10,7%.

Opções

O vice-presidente de estratégia da Gol, Mateus Pongeluppi, diz que, se o dólar se mantiver no patamar atual, as empresas têm três opções. A primeira seria aumentar a eficiência – cortando custos, por exemplo – para neutralizar o efeito do câmbio. A segunda seria reduzir suas margens de lucro, e a terceira, repassar o custo para o consumidor.

“Normalmente, perder margem é a última das saídas. Hoje, do jeito que está a alavancagem e o endividamento da indústria, é ainda mais difícil imaginar uma redução dessas margens. Não é um cenário de que as empresas vão reduzir a política de dividendo. É um cenário de que a conta simplesmente não fecha”, diz o executivo.

Pongeluppi acrescenta que as empresas sempre trabalham para melhorar a eficiência, mas, segundo ele, não há medidas suficientes que elas possam implementar para compensar a desvalorização do real. Até setembro, as empresas trabalhavam com uma cotação ao redor de R$ 5,50; agora, esse número está em R$ 6,20.

Segundo ele, não é possível elevar o preço de todas as tarifas na casa dos 10%, porque parte dos consumidores deixaria de voar. Assim, o cliente com maior poder aquisitivo, aquele que compra o bilhete de última hora, deverá sentir aumentos maiores. “Não consigo aumentar o preço em 10% para quem paga uma passagem de R$ 300, mas consigo para quem paga R$ 2 mil. O nível de preços deve subir, mas a dispersão vai aumentar ainda mais se esses patamares de dólar se confirmarem.”

Vice-presidente de finanças da Azul, Alexandre Malfitani afirma que as tarifas em 2025 serão as necessárias “para viabilizar o setor”. Ele destaca que a alta do dólar está afetando todas as empresas, que “estão disciplinadas” em relação ao preço. “Todo mundo está querendo sobreviver e gerar caixa.”

Malfitani pondera, porém, que a entrada de novas aeronaves ajuda a diluir os custos e a balancear a pressão da alta do dólar. Isso porque os novos modelos de aviões consomem menos combustível, tornando a operação mais barata.

No segmento internacional, os preços também devem continuar elevados. “Precisamos de aviões cheios para sermos lucrativos, porque tem uma pressão nos custos. As tarifas estão estabilizadas em patamar alto, e a ambição é mantê-las”, afirma o diretor-geral do grupo Air France-KLM na América do Sul, Manuel Flahault. A Latam não quis comentar o assunto. (Estadão Conteúdo)

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