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Dólar fecha a 4 reais e 4 centavos, o maior valor desde setembro de 2018

O mês foi marcado pela disparada do dólar, que subiu mais de 10% ante o real. (Foto: Marcello Casal Jr/ABr)

Depois de sucessivos ensaios nos últimos dias, o dólar rompeu definitivamente o teto dos R$ 4 na sessão desta quinta-feira (16), em meio ao fortalecimento global da moeda americana e à busca por proteção diante da deterioração do capital político do presidente Jair Bolsonaro.

Com mínima de R$ 3,9947 e máxima de R$ 4,0416, o dólar à vista fechou em alta de 0,98%, a R$ 4,0357, o maior valor de fechamento desde 28 de setembro do ano passado. E as perspectivas de operadores e analistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast são de que a taxa de câmbio se mantenha acima de R$ 4 no curto prazo. Na B3, a Bolsa de São Paulo, o dia foi de perdas e o Ibovespa teve queda de 1,75%, chegando aos 90.024,47 pontos. Foi o menor nível do índice no ano.

A corrida ao dólar começou já na abertura dos negócios em meio à conjunção de alta da moeda americana no exterior e ao aumento das tensões políticas. À surpresa com a magnitude dos protestos de rua na quarta-feira contra o contingenciamento da educação somaram-se as preocupações com os desdobramentos da quebra do sigilo do senador Flávio Bolsonaro.

As declarações de Bolsonaro, que chamou manifestantes de idiotas, e a piora da situação fiscal, com o governo sem forças nem para aprovar com facilidade crédito suplementar, completavam o quadro de desalento. Um presidente com capital político erodido e sem base de apoio no Congresso significa dificuldades enormes para aprovação de uma reforma da Previdência robusta.

“Não se sabe se vai demorar muito mais para a aprovação da reforma da Previdência e qual vai ser a desidratação. Isso faz o mercado tomar uma postura mais defensiva”, afirma Felipe Pellegrini, gerente do Travelex Bank, ressaltando que a piora das perspectivas para a economia também contribuem para depreciação do real. “Antes era só a questão da Previdência. Agora, temos a projeção de PIB muito fraco e os protestos. A tendência é de alta do dólar no curto prazo”.

Além do quadro interno turbulento, pesou a rodada de alta global do dólar após dados positivos da economia americana, com fortes ganhos ante o euro e a maioria das divisas emergentes. O índice DXY – que compara o dólar a uma cesta de seis moedas – subiu 0,27%, em dia de perdas do euro. A moeda americana também apresentou ganhos firmes em relação a divisas de países emergentes, com destaque para a lira turca e o rand sul-africano.

O real já apresentava o pior desempenho entre moedas emergentes ao longo da tarde quando uma pesada onda de ações da Vale, que alertou para risco de rompimento de barragem em Minas Gerais, levaram o Ibovespa a perder os 90 mil pontos e agravaram a tensão no mercado de câmbio. Com as vendas na Bolsa, o dólar engatou uma sequência de alta e renovou sucessivas máximas até atingir R$ 4,0416.

Para o especialista no mercado de câmbio Jefferson Laatus, o real é vítima de uma tempestade perfeita, com o movimento concomitante de fortalecimento global da moeda americana e de perda de confiança dos investidores no governo. “São muitas questões, como os protestos, o cumprimento da regra de ouro, o problema do Flávio Bolsonaro e a própria postura do presidente. Tudo isso faz o mercado buscar segurança no dólar”, diz Laatus, ressaltando que o “mercado está descrente”.

Apesar do estresse dos últimos dias, analistas não veem motivo para intervenção do Banco Central, já que não há disfuncionalidades no mercado de câmbio e já há provisão de hedge por meio de rolagem de swap cambial.

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