O dólar fechou em alta de 0,66% nesta terça-feira (15), cotado a R$ 5,890, com investidores ainda atentos às políticas tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Os mercados globais repercutiram a notícia de que a China suspendeu a compra de aeronaves da Boeing, em mais um lance retaliatório às tarifas norte-americanas.
O novo capítulo da guerra comercial entre os dois países diminuiu o apetite por risco globalmente. O Ibovespa, a a bolsa brasileira, que rondou a estabilidade durante boa parte do pregão, fechou em queda de 0,16%, a 129.245 pontos. Em Wall Street, o índice S&P500 perdeu 0,17%, enquanto Nasdaq Composite e Dow Jones recuaram 0,05% e 0,38%, respectivamente.
As duas maiores economias do mundo estão em cabo de guerra desde 2 de abril, quando Trump tornou o tarifaço público. Inicialmente, a China seria taxada em 34%, além do piso básico de 10% para todas as importações que chegam aos EUA e de outras tarifas impostas ao país asiático ao longo dos últimos três meses.
Mas Pequim retaliou com tarifas da mesma magnitude, e Trump subiu a régua para 50%. A China não recuou e aumentou as taxas sobre os EUA para 84%, o que culminou em encargos de 145% por parte do governo norte-americano. O país asiático, então, aumentou a carga para 125% na sexta-feira.
Nesta terça, em mais um lance retaliatório, a China ordenou as empresas aéreas do país a pararem de comprar aviões da gigante americana Boeing. A informação foi publicada primeiro pela Bloomberg.
“A tensão entre EUA e China voltou ser um fator de risco após Trump acusar Pequim de descumprir acordos com agricultores e com a Boeing, levando o governo chinês a suspender entregas da fabricante americana”, comenta Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
“A imprevisibilidade de Trump segue como fonte primária de volatilidade, ao mesmo tempo em que suas sinalizações tarifárias pontuais beneficiam ações e os juros de longo prazo nos EUA.”
Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump está aberto a fazer um acordo comercial com a China, mas Pequim deve dar o primeiro passo.
“A bola está com a China: A China precisa fazer um acordo conosco, nós não precisamos fazer um acordo com eles. O presidente deixou bem claro que está aberto a um acordo com a China.”
O governo republicano ainda abriu investigações de segurança nacional sobre a importação de chips semicondutores e equipamentos de fabricação de semicondutores, bem como sobre produtos farmacêuticos, seus ingredientes e materiais derivados.
As medidas podem levar à cobrança de tarifas sobre os dois setores. É um objetivo de Trump, como ele próprio tem dito, e autoridades dos EUA comentaram no fim de semana que produtos eletroeletrônicos como celulares e computadores poderiam ser incluídos na investigação sobre chips.
De acordo com os registros publicados na segunda, as duas investigações foram iniciadas pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, em 1º de abril —um dia antes do apelidado “dia da libertação”.
Essas apurações, conhecidas como investigações da Seção 232, geralmente levam vários meses para serem concluídas e exigem um período de aviso público e comentários. O governo apontou que receberá sugestões por 21 dias.
Trump tem indicado que irá refinar a política tarifária dos EUA. Ainda na segunda, ele afirmou que estava “buscando algo para ajudar as montadoras” que estavam fabricando veículos na América do Norte.
“Eles estão mudando para peças que foram feitas no Canadá, México e outros lugares, e precisam de um pouco de tempo, porque vão fabricá-las aqui”, disse.
Tarifas de 25% sobre importações de carros e peças foram impostas no mês passado —medida que deve elevar custos ao consumidor e desestabilizar cadeias de suprimentos automotivas globais.
Carros e peças fabricados no Canadá e no México enfrentam tarifas mais baixas, e as tarifas de 25% só incidem sobre o que não é feito nos EUA se as regras do acordo comercial USMCA de 2020 não forem cumpridas.
Além disso, na sexta-feira à noite, Trump anunciou a flexibilização do tarifaço a uma série de produtos eletrônicos, como smartphones e computadores.
O recuo isenta eletrônicos das tarifas de 145% sobre importações da China e de 10% sobre outros países, mas não configura como uma “exceção tarifária”, segundo o presidente. São produtos que estão “apenas sendo realocados para uma categoria tarifária diferente”, além de estarem sujeitos à taxa de 20% imposta à China em fevereiro como retaliação pela entrada da droga fentanil.
As informações são do jornal Folha de S.Paulo.