A PF (Polícia Federal) e o MPF (Ministério Público Federal) suspeitam que parte da fortuna guardada pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima em “bunker” em Salvador era oriunda de malas e sacolas de dinheiro entregues pelo doleiro Lúcio Funaro, operador de esquemas de políticos do PMDB. A suspeita aparece nos relatórios que embasaram a nova prisão preventiva de Geddel, decretada pela Justiça Federal em Brasília e cumprida nesta sexta-feira (8) pela PF na capital baiana.
No relatório em que pede a prisão do ex-ministro e de seu aliado Gustavo Ferraz, também do PMDB e diretor-geral da Defesa Civil da Prefeitura de Salvador, o MPF ressalta que já se levantava a possibilidade de ser encontrado dinheiro no “bunker” em razão de depoimento de Funaro à PF. O doleiro disse aos policiais ter feito várias viagens em seu avião ou em voos fretados para “entregar malas de dinheiro” a Geddel. “Essas entregas eram feitas na sala VIP do hangar Aerostar, localizado no aeroporto de Salvador, diretamente nas mãos de Geddel. Em duas viagens que fez, uma para Trancoso e outra para Barra de São Miguel, o declarante fez paradas rápidas em Salvador para entregar malas ou sacolas de dinheiro”, cita o depoimento transcrito pelo MPF.
O fato de os R$ 51 milhões terem sido apreendidos em caixas e malas reforçam a suspeita, segundo a Procuradoria da República no DF. “A forma como foram encontrados os valores, em caixas e malas, bem como a expressiva quantia corroboram as declarações do operador financeiro Lúcio Funaro, de que os valores transportados por Funaro tinham como destino o ex-ministro Geddel.”
O ex-ministro é suspeito de receber R$ 20 milhões em propinas para liberação de crédito do FI-FGTS a empresas. Ele foi vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal entre 2011 e 2013, nomeado no cargo pela então presidente Dilma Rousseff.
Funaro assinou um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) em que faz acusações a diversos políticos do PMDB, entre eles o presidente Michel Temer. A colaboração já foi homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), será usada na nova denúncia da PGR contra Temer e permanece sob sigilo. Geddel também é delatado. O depoimento à PF em que o doleiro disse ter entregue dinheiro vivo ao ex-ministro da Secretaria de Governo de Temer foi dado fora do acordo de delação.
Ainda conforme o MPF, o edifício onde estavam o “bunker” com os R$ 51 milhões fica a apenas um quilômetros do prédio onde o político baiano cumpria prisão domiciliar. “A proximidade permite que o deslocamento entre as duas localidades, envolvendo altíssimos valores, seja feito sem maiores imprevistos”, diz a Procuradoria no pedido de prisão.
Outra possível fonte dos recursos apreendidos, segundo o MPF, é a “retirada em espécie” a cargo de Gustavo Ferraz num hotel em São Paulo, em 2012. Gustavo teria recebido dinheiro vivo de um emissário do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como suspeita a PF. O aliado de Geddel deu “auxílio direto e essencial” para a acomodação dos R$ 51 milhões no “bunker”, segundo o MPF. (AG)