Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de agosto de 2019
O presidente Donald Trump adiou uma viagem que faria à Dinamarca após a primeira-ministra do país comunicar que não estava interessada em negociar a venda da Groenlândia para os EUA. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
O cancelamento, anunciado em uma rede social na terça (20), acontece dois dias após o republicano ter dito a jornalistas que ser proprietário da Groenlândia —um território autônomo da Dinamarca— “seria bacana” para os EUA do ponto de vista estratégico.
Trump deveria visitar Copenhague —a capital dinamarquesa— em setembro, e o Ártico seria uma das pautas durante reuniões com os primeiros-ministros da Dinamarca e da Groenlândia. Mas não havia indicações de que conversas sobre a compra do território estivessem na agenda.
Em seu post nesta terça, Trump disse que a Dinamarca é “um país muito especial com pessoas incríveis”, mas que adiaria a reunião com a primeira-ministra Mette Frederiksen já que ela não teria interesse em discutir a comercialização da Groenlândia.
O republicano agradeceu o fato de Frederiksen ter sido tão direta, dizendo que ela poupou esforços e gastos financeiros tanto para os EUA quanto para a Dinamarca. Trump afirmou que espera remarcar a viagem.
Durante uma conversa com jornalistas em Washington, porém, o americano mudou seu discurso e atacou Frederiksen. “Eu acho que a declaração da primeira-ministra foi desagradável. Foi uma declaração inapropriada”, disse ele na Casa Branca.
No final de semana, Frederiksen havia visitado a ilha e dito que a ideia de Trump de comprá-la era “absurda”, depois que as autoridades da Dinamarca rechaçaram a ideia. “A Groenlândia não está à venda. A Groenlândia não é dinamarquesa. A Groenlândia pertence à Groenlândia. Espero sinceramente que essa proposta não seja séria”, disse a primeira-ministra ao jornal Sermitsiaq.
O jornal The Wall Street Journal noticiou na quinta-feira (15) que Trump tinha expressado interesse por essa grande ilha dinamarquesa, ao consultar assessores se seria possível aos Estados Unidos adquirir o território situado entre o Ártico e o Atlântico Norte.
A Dinamarca colonizou a ilha, com área de dois milhões de quilômetros quadrados, no século 18. A população é de apenas 57 mil pessoas, a maioria pertencente à comunidade indígena inuit. Trata-se de uma das áreas habitadas mais frias do mundo.
A ilha depende do apoio econômico da Dinamarca, que também cuida de sua defesa e política externa, mas tem autonomia para resolver seus assuntos internos.
A primeira-ministra da Dinamarca disse que o episódio não vai afetar a relação entre os dois aliados. “O cancelamento da visita não muda a boa relação entre a Dinamarca e os EUA”, afirmou Frederiksen, em uma entrevista coletiva.
Porém, parlamentares e outros políticos dinamarqueses criticaram o cancelamento. “É um insulto vindo de um amigo e aliado próximo”, disse ao Washington Post Michael Aastrup Jensen, membro do parlamento pelo influente partido de centro-direita Venstre.
Ele afirmou que o interesse de Trump em comprar a Groenlândia pegou o país de surpresa e foi inicialmente considerada uma piada, até que os dinamarqueses perceberam a dimensão “deste desastre”.
Jensen disse que os parlamentares do país se sentiram enganados e “chocados” com o presidente, que não possui “nem conhecimentos diplomáticos básicos”.
“Uma grande oportunidade para fortalecer o diálogo entre aliados se tornou uma crise diplomática”, postou no Twitter o ex-ministro Kristian Jensen, membro do partido Liberal, de oposição, chamando o cancelamento de “caos total”.
Na mesma rede social, o ex-ministro da Indústria e Negócios dinamarquês Rasmus Jarlov escreveu: “Por razão nenhuma, Trump assume que uma parte (autônoma) do nosso país está à venda. Então de forma insultante ele cancela uma visita para a qual todos estavam se preparando”, e acrescentou “Por favor, mostre mais respeito.”