Sábado, 22 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de fevereiro de 2025
O presidente dos EUA, Donald Trump, cumpriu no primeiro mês de governo sua promessa de provocar “choque e temor” ao retornar à Casa Branca. Uma enxurrada de ordens executivas e medidas unilaterais está causando mudanças no comércio global, nos conflitos existentes e na percepção mundial sobre o papel dos EUA.
Já no primeiro dia de governo, Trump assinou 26 ordens executivas sobre temas que vão de política energética até o desmonte do que considera políticas progressistas (ou “woke”) em órgãos federais. Nos dias seguintes, ele se voltou para o exterior, emitindo declarações sobre a guerra na Ucrânia, sua intenção de dominar a Faixa de Gaza e se afastando de aliados históricos da Europa enquanto acenava para o Oriente Médio, em especial a Arábia Saudita e Israel, e à Rússia de Vladimir Putin.
De todas as medidas apresentadas por Trump, nenhuma foi encaminhada ao Legislativo. Analistas veem nisso uma ação destinada a exibir força política.
“O governo Trump tomou e continua a adotar ordens executivas que têm o potencial de impactar significativamente tanto o setor público quanto o privado”, afirma o escritório de direito internacional Skadden, em relatório. “O resultado é um ambiente jurídico em constante mudança, apresentando questões únicas para o setor privado, ao Estado administrativo e a certas iniciativas sociais”.
A palavra de ordem de Trump é reduzir o tamanho do Estado, parte de uma estratégia conjunta com o bilionário Elon Musk, que assumiu o recém-criado Departamento de Eficiência Governamental (Doge) visando reduzir os gastos federais em US$ 2 trilhões para conter o aumento da dívida pública de quase US$ 36 trilhões.
Na cruzada para reduzir o Estado, Trump exigiu o fechamento da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (Usaid, a agência de ajuda externa americana), a retirada dos EUA da Organização Mundial da Saúde (OMS) e iniciou um programa de demissão voluntária oferecido a cerca de 2,3 milhões de funcionários federais visando reduzir de 5% a 10% o total de servidores do governo.
A cruzada de Trump e Musk em reduzir o tamanho do governo não ocorreu sem percalços. A Justiça proibiu o Tesouro americano de repassar a terceiros – e à equipe de Musk – dados de seu sistema de pagamentos. Tribunais também têm dificultado o esforço de Musk de encolher a folha de pagamento do funcionalismo.
Os problemas legais das propostas de Trump não se limitam às ações do Doge. Tribunais contestaram a tentativa do governo de derrubar a norma constitucional que considera americanas “todas as pessoas nascidas ou naturalizadas nos EUA” – em meio à cruzada de Trump contra a imigração ilegal.
Das 26 ordens executivas assinadas no primeiro dia, seis alteraram políticas de fronteira, como a que designou carteis como grupos terroristas e permitiu o envio de tropas das forças armadas para garantir a segurança da fronteira.
A segurança das fronteiras também foi pretexto para Trump fazer sua primeira ameaça de tarifas, dando início a uma guerra comercial de impacto global.
Mesmo antes de assumir a Casa Branca, ele ameaçou impor taxas de 25% a importaçõs de México e Canadá – sob a alegação de que os países estavam facilitando a entrada de imigrantes ilegais e de drogas no país.
As medidas foram suspensas por 30 dias após os presidentes dos dois países terem dado garantias de que iriam aumentar a segurança na fronteira com os EUA. Trump também anunciou um aumento de 10% nas tarifas contra produtos da China, medida que provocou a retaliação chinesa – com a imposição de sobretaxas de 10% a 15% a alguns produtos americanos, de carvão a uísque – e uma ação de Pequim na Organização Mundial do Comércio.
A guerra comercial de Trump seguiu com o anúncio de tarifas de 25% sobre todas as importações de aço e alumínio para os EUA, que terão efeito a partir de 12 de março, e medidas que impõem a todos os países taxas recíprocas. Washington quer impor a parceiros comerciais alíquotas de importação iguais às cobradas por eles sobre produtos dos EUA.
Neste primeiro mês, Trump declarou intenção avançar também em temas territoriais. Um desejo expresso pelo presidente que exemplifica isso é o Canal do Panamá, que Trump acusa de estar sendo gerido pela China e ameaçou tomá-lo de volta. Para aplacar a ira trumpista, o presidente panamenho, José Raúl Mulino, anunciou investigação sobre as empresas chinesas que controlam as duas extremidades do canal e se retirou de parcerias de infraestrutura firmadas com a China.
Os desejos territoriais de Trump também se estendem até a Groenlândia, região autônoma dinamarquesa onde o presidente alega que a população local de 57 mil pessoas “quer estar com os EUA”. Uma pesquisa feita por um jornal dinamarquês mostrou ampla rejeição à ideia de se juntar aos EUA.