Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 9 de fevereiro de 2020
Depois de sair vitorioso do processo de impeachment no Congresso Nacional dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump mandou demitir dois assessores que testemunharam contra ele no inquérito. As “vítimas” foram o embaixador norte-americano na União Europeia, Gordon Sondland, e o tenente-coronel Alexander Vindman, diretor de assuntos europeus do Conselho de Segurança da Casa Branca.
E os “cartões vermelhos” não pararam aí. Conforme o jornal “The New York Times”, o também tenente-coronel Yevgeny Vindman, gêmeo de Alexander e que trabalhava na Casa Branca, foi retirado do cargo no mesmo momento que o irmão. Principal especialista em Ucrânia do NSC, Alexander Vindman foi o primeiro oficial da Casa Branca a testemunhar a portas fechadas no inquérito de impeachment na Câmara.
Ele disse que ficou preocupado com um telefonema de Trump ao presidente da Ucrânia, o estopim do processo de impeachment. Já Sondland afirmou ter feito pressão sobre o líder ucraniano por “ordem expressa” do presidente americano. O advogado de Alexander Vindman, David Pressman, considerou o afastamento uma retaliação por seu depoimento no processo de impeachment.
“Não há dúvida na mente de nenhum americano sobre por que o emprego deste homem acabou, por que esse país agora tem um soldado a menos servindo a Casa Branca”, afirmou. Já o NSC não comentou. Mais cedo, Trump havia confirmado a repórteres que Vindman seria mandado embora. “Bom, não estou feliz com ele”, disse. “Você acha que eu deveria estar feliz com ele? Não estou.”
Em seu depoimento, o militar disse que procurou um advogado do governo para falar de suas preocupações de que a segurança nacional dos Estados Unidos poderia ser prejudicada após o telefonema de Trump a Zelenski, em julho. Nessa ligação, o presidente americano pediu ao colega ucraniano para investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, possível rival nas eleições de 2020, e seu filho Hunter Biden, que trabalhou no conselho da empresa de gás ucraniana Burisma.
Trump fez seu pedido a Zelenski depois de reter US$ 391 milhões em ajuda de segurança aprovada pelo Congresso para ajudar o governo de Kiev a combater separatistas apoiados pela Rússia. A lei federal proíbe os candidatos de aceitar ajuda estrangeira em uma eleição.
Depoimento
Em sua fala ao Congresso, Vindman contou que ouviu a chamada: “Não achei adequado exigir que um governo estrangeiro investigasse um cidadão norte-americano e fiquei preocupado com as implicações para o apoio de Washington à Ucrânia. Percebi que se a Ucrânia prosseguisse uma investigação sobre os Bidens e a Burisma, provavelmente seria interpretado como um ato partidário que, sem dúvida, resultaria na perda do apoio bipartidário que a Ucrânia mantém até agora. Tudo isso prejudicaria a segurança nacional dos Estados Unidos.”
Ele disse ter sido orientado por John Eisenberg, o principal consultor jurídico do Conselho de Segurança Nacional, a não discutir suas preocupações sobre a conversa dos líderes com alguém de fora da Casa Branca.
Vindman nasceu na Ucrânia, e sua família deixou o país fugindo da União Soviética quando ele tinha três anos. Antes de se juntar à equipe da Casa Branca, ele lutou na Guerra do Iraque e foi condecorado por sua atuação. Já Gordon Sondland, na audiência pública em que foi testemunha do processo de impeachment, disse que trabalhou a partir de “ordens expressas” do presidente americano para que pressionasse o líder da Ucrânia a investigar um rival do republicano.
De acordo com o embaixador, os esforços, realizados em colaboração com Rudolph Giuliani, advogado pessoal de Trump, serviriam para forçar a abertura da apuração na Ucrânia contra os Bidens. Em troca, Zelenski faria uma visita à Casa Branca, o que configuraria, segundo o próprio Sondland, uma troca de favores.
“Eu sei que os membros desse comitê frequentemente formulam essas questões complicadas na forma de uma pergunta simples: houve toma lá dá cá?”, disse Sondland. “Em relação aos pedidos de telefonema [ao governo] e reunião na Casa Branca, a resposta é sim.” Sondland foi um dos principais doadores para a cerimônia de posse de Trump.