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Por Redação O Sul | 25 de janeiro de 2020
Em campanha à reeleição, Donald Trump tornou-se, nesta sexta-feira, o primeiro líder dos Estados Unidos a participar presencialmente da Marcha pela Vida, grande evento anual que reúne manifestantes antiaborto em Washington desde 1974.
— Todos nós aqui entendemos a verdade eterna de que toda criança é preciosa e um presente sagrado de Deus — disse Trump à multidão presente no evento, associando a questão do aborto à liberdade religiosa. — Juntos, devemos proteger, cuidar e defender a dignidade e a pureza de toda vida humana.
O vice-presidente Mike Pence, que havia representado Trump na Marcha pela Vida de 2017, enviou um vídeo para o evento, agradecendo o apoio do grupo ao governo. Foi a 47a edição da marcha, que ocorre todo dia 24 de janeiro — data em que a Suprema Corte americana reconheceu, em 1973, o direito ao aborto, no famoso caso Roe versus Wade. Ao longo dos anos, diversos presidentes republicanos cogitaram participar do evento, mas consideraram que o risco político era maior do que os benefícios. Ao invés de comparecerem pessoalmente, enviaram representantes ou mensagens em vídeo.
Trump atacou os democratas em seu discurso, descrevendo-os como radicais que querem “silenciar os americanos que acreditam na santidade da vida”. E aproveitou para atacar o processo de impeachment a que é submetido por iniciativa da oposição.
— Eles estão vindo atrás de mim porque estou lutando por vocês — disse. — E estamos lutando por aqueles que não têm voz nenhuma, e vamos ganhar porque sabemos como ganhar.
A relação de Trump com o movimento antiaborto tem sido oportunista desde sua campanha à Presidência, lançada em junho de 2015. Desde então, ele passou a cortejar os eleitores evangélicos e católicos mais tradicionais, parte fundamental do eleitorado que o elegeu em 2016 — e essencial para que consiga ser reeleito em novembro deste ano.
Em troca da nomeação de juízes antiaborto para a Suprema Corte, do apoio inequívoco a Israel e de suas tentativas de proteger os direitos de estudantes rezarem nas escolas, o eleitorado republicano tem relevado o passado do presidente. Além de seu histórico de três casamentos e dois divórcios, Trump também tem um passado complexo no que diz respeito à interrupção de gestações.
Em uma entrevista de 1999 para o canal NBC, o empresário Trump se autodescreveu como “pró-escolha em todos os aspectos”, isto é, favorável ao direito da mulher de optar pela interrupção da gravidez. Há quatro anos, alguns dos mais famosos oponentes do aborto chegaram a escrever uma carta para os eleitores do estado de Iowa, nas vésperas das primárias locais, pedindo para que votassem em “qualquer um menos Trump” porque “no que diz respeito à defesa das crianças que ainda não nasceram e à proteção das mulheres contra a violência do aborto, não é possível confiar em Trump”.
O anúncio de que o presidente pretendia participar da Marcha pela Vida foi feito de surpresa, via Twitter, em meio ao início de seu julgamento de impeachment no Senado — Trump é acusado de abuso de poder e obstrução de Congresso no caso em que teria pressionado o presidente da Ucrânia a investigar o ex-vice-presidente Joe Biden, seu potencial rival em novembro. Mais do que desviar a atenção dos procedimentos no Legislativo, a presença do presidente reforça sua tentativa de se aproximar dos grupos conservadores em um ano eleitoral, polarizando ainda mais o eleitorado.
Para a cientista política Nicole Bacharan, autora de um livro sobre a Presidência de Trump, o republicano, ao falar na Marcha pela Vida, pretendia se dirigir diretamente à sua base eleitoral para “provar sua lealdade”.
— Mas também para lembrá-los do que ele já fez pelo movimento e dizer-lhes que está preparado para se comprometer ainda mais — disse ela à Rádio France 24, destacando que, em 2016, 81% dos cristãos evangélicos votaram no republicano.