O ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump tentou usar as notícias em torno da operação de busca e apreensão do FBI (a polícia federal americana) em sua casa para arrecadar fundos de campanha. Trump enviou mensagens de texto e e-mails na última terça (9), pedindo que seus apoiadores contribuíssem com doações de US$ 5 (R$ 25,62) a US$ 5 mil (R$ 25.620,50) para o comitê de ação política Save America, lançado por ele após a derrota nas eleições de 2020 e que já arrecadou mais de US$ 100 milhões (R$ 511,9 milhões), para enfrentar o que chamou de “caça às bruxas”.
“Eles estão tentando deter o Partido Republicano e a mim mais uma vez. A ilegalidade, a perseguição política e a caça às bruxas devem ser expostas e interrompidas”, disse Trump em um dos e-mail de pedidos de doação.
Desde o primeiro momento, o ex-presidente tem utilizado entrada dos agentes do FBI em sua residência na Flórida, Mar-a-Lago, para apoiar a narrativa de que é alvo de perseguição política por parte do governo de Joe Biden e do Partido Democrata como um todo. Algumas das primeiras informações sobre a operação do FBI na segunda (8), partiram do próprio Trump, que comparou o caso a Watergate e afirmou que “são tempos obscuros no país”.
O Departamento de Justiça dos EUA e o FBI não se pronunciaram oficialmente sobre a investigação, mas fontes ouvidas pela imprensa americana afirmam que a operação do começo da semana está relacionada a documentos que teriam sido subtraídos da Casa Branca pelo ex-presidente ao fim do mandato – o que violaria leis federais e levantou um debate jurídico sobre a possibilidade de Trump ficar impossibilitado de assumir cargos públicos. Um dos filhos do republicano, Eric Trump, chegou a afirmar à Fox News que a operação estava relacionada a acusações relacionadas aos documentos.
Apesar da operação ter cumprido um mandado de busca e apreensão – o que significa que o FBI agiu com autorização legal de um tribunal –, uma ação desta natureza na residência de um ex-presidente é incomum, levando muitos analistas a afirmarem que ela provavelmente aconteceu com o consentimento do procurador-geral Merrick Garland e/ou do diretor do FBI, Christopher Wray.
De acordo com um dos filhos de Trump, Eric, mandado estaria relacionado a documentos presidenciais supostamente subtraídos pelo republicano ao deixar a Casa Branca.
A falta de informações oficiais sobre o caso e o clamor popular em torno da operação – que fez com que apoiadores de Trump fossem até a frente de Mar-a-Lago na noite de segunda – repercutiu entre parlamentares republicanos, que cobraram explicações urgentes das autoridades.
O líder da minoria republicana na Câmara dos Deputados dos EUA, Kevin McCarthy, denunciou o que chamou de “instrumentalização intolerável com fins políticos” do Departamento de Justiça e prometeu uma investigação sobre seu funcionamento quando os republicanos retornarem ao poder – o partido, hoje minoria na Casa, é favorito para recuperar a maioria dos assentos nas midterms deste ano.
Mesmo desafetos de Trump dentro do Partido Republicano se manifestaram sobre o caso. O ex-presidenciável e senador pelo Kentucky Mitch McConnell cobrou explicações das autoridades judiciais.
O país merece uma explicação completa e imediata sobre o que levou aos eventos do início desta semana. O procurador-geral Garland e o Departamento de Justiça deveriam já ter dado resposta ao povo americano e precisam fazer isso imediatamente.
Investigação
A operação do FBI na casa de Trump, ligada a uma investigação sobre documentos que deveriam ser enviados aos Arquivos Nacionais ao fim de sua Presidência, não é a única fonte de atrito entre as autoridades judiciais americanas e o ex-presidente.
O ex-presidente também foi alvo de uma comissão parlamentar por seu papel nos eventos que culminaram na invasão do Capitólio em 6 de janeiro. Os parlamentares concluíram que a invasão foi tentativa de golpe e que Trump era o líder dos manifestante.
As conclusões da comissão fizeram o Departamento de Justiça dos EUA voltarem as atenções para a conduta do ex-presidente, o que pode resultar em mais um questionamento jurídico, segundo fontes ouvidas pela imprensa americana.