Os investimentos dos fundos de pensão nos negócios do grupo J&F, dono do frigorífico JBS, envolveram o pagamento de propina para executivos dos fundos e para o Partido dos Trabalhadores, afirma o empresário Joesley Batista em seu depoimento ao Ministério Público Federal. Esses investimentos, que servem para financiar as empresas, são investigados pela Operação Greenfield.
Segundo Joesley, o esquema era similar ao desenhado para conseguir vantagens no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
“(Era uma) situação análoga, idêntica ao BNDES, com uma diferença apenas: nos fundos eu pagava propina também pro dirigente e também pro PT, pro tesoureiro. Tinha uma planilha que eu abria 1% pro dirigente, 1% pro presidente do fundo, 1% pro PT, que era administrado pelo Vaccari (João Vaccari, ex-tesoureiro do PT) e creditava a conta mãe, lá, a conta do Guido (Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda).
Em outro depoimento, Joesley diz que mantinha duas contas no exterior para pagar propina referente a facilitações no BNDES. O empresário diz que apresentada extratos regulares da conta ao ministro Guido Mantega e diz que os recursos foram usados para doações de diversos partidos em 2014, a pedido de Mantega.
Os fundos de pensão são entidades que administram a aposentadoria complementar dos trabalhadores. Os maiores fundos do Brasil são vinculados a empresas estatais, como a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, a Petros, da Petrobras, e a Funcef, da Caixa Econômica.
Em seu depoimento, Joesley relata irregularidades envolvendo dirigentes do Petros e Funcef. Esses dois fundos investiram em 2009 na Florestal, empresa que foi incorporada à Eldorado posteriormente, fabricante de celulose dos irmãos Batista. Hoje eles são acionistas indiretos da Eldorado, por meio de um fundo de investimentos em participações, o FIP Florestal. Os dois fundos têm uma fatia equivalente a 8,53% cada um na companhia.
O aporte é investigado pela operaçao Greenfield, que afirma que a J&F teria superfaturado as contrapartidas feitas aos investimentos dos fundos de pensão. Isso teria provado prejuízos aos fundos.
BNDES aproximou JBS dos fundos
A aproximação da JBS com os fundos de pensão ocorreu por intermédio do BNDES, relata Joesley. O empresário procurou o banco para pedir recursos para financiar a aquisição de quatro empresas estrangeiras na Austrália e nos EUA. O então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, teria sugerido que ele procurasse os fundos de pensão para entrar no negócio.
Na época, BNDES, Petros e Funcef criaram o fundo Prot para investir R$ 1 bilhão na JBS. Joesley disse não lembrar se houve irregularidades nessa operação, mas disse que as propinas começaram nos investimentos seguintes.
“O senhor me perguntou no anexo anterior se eu estava pagando propina pros dirigentes. Eu não tenho certeza. Pode ser que sim e pode ser que não. Andei procurando nos meus arquivos lá, mas eu não me recordo. Eu posso afirmar que o negócio começou do próximo negócio em diante. Porque do próximo negócio em diante eu estava sozinho com o presidente dos fundos. Não tinha o BNDES arrastando os fundos”, disse Joesley.
Aproximação com o PT
Segundo Joesley, o então presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, teria recomendado ao empresário que se aproximasse dos sindicatos dos trabalhadores da Caixa, já que metade da diretoria do fundo de pensão é indicada pelo sindicato. O intermediário para negociar com os sindicatos era João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, situação que seria condicionada a doações para o partido, relata o delator.
“O Vaccari acabou sendo a pessoa que tinha os contatos com o sindicato e que tinha influência nos fundos por causa da parte dos sindicalistas. E aí, Dr. Sérgio, o 1% que a gente pagava pro partido”, disse Joesley.
Ele disse que também pagava 1% para o ex-presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, e para Wagner Pinheiro, ex-presidente do Petros. Pinheiro foi substituído no cargo por Luiz Carlos Afonso, que passou a receber os pagamentos.
Fusão da Eldorado com Florestal
Os fundos de pensão receberam propina para aprovar a fusão de duas empresas da JBS, a Eldorado e a Florestal Celulose, que tinha plantação de eucalipto, segundo o relato de Joesley.
A Eldorado, que é fabricante de celulose, tentava um financiamento com o BNDES para construir sua fábrica. A Florestal seria fornecedora de eucalipto para a empresa. O banco teria exigido a fusão das duas empresas para aprovar o financiamento.
A operação, no entanto, dependia do aval dos fundos, que eram acionistas minoritários da Florestal. “Aí foi onde eu fui obrigado a ir lá no fundo e dizer ‘ó, tem que fazer a fusão’. Aí pra fusão eu também paguei propina”, disse Joesley. (AG)