Sábado, 28 de dezembro de 2024
Por Tito Guarniere | 7 de outubro de 2023
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Aos 92 anos o doutor Rolf Udo Zelmanowicz fechou os olhos para sempre, depois de uma vida intensa – deixou marcas indeléveis, legados admiráveis de espírito e humanidade, e em todos os que com ele conviveram um sentimento de perda e desconsolo.
A saga desse homem singular e diferenciado começa na infância, na Alemanha, de onde teve de escapar às pressas da tirania nazista, com a família de judeus católicos, os pais e o irmão.
Vieram dar no Brasil, mais precisamente em Rio Grande. Do litoral, Rolf veio para Porto Alegre onde se formou médico e ali mesmo iniciou uma carreira extremamente bem sucedida; foi um profissional médico de primeiro time, altamente qualificado e reconhecido. A ideia da cura e de mitigar o sofrimento humano permeou a sua vida e o acompanhou até os últimos dias.
A mente inquieta, a aguda percepção do mundo ao seu redor, a inteligência brilhante, um certo espírito de aventura, a capacidade de agregar pessoas e a liderança nata – tudo o impeliu para novas atividades e desafios.
Foi assim que ele e outros médicos e profissionais liberais fundaram a APLUB, entidade pioneira de previdência complementar no Brasil, que se tornou uma empresa ícone do setor durante muito tempo. Rolf permaneceu na APLUB cerca de 30 anos. A APLUB encerrou suas atividades depois de mais de 50 anos de existência, por conta da insensatez e da irracionalidade de agentes do Estado brasileiro.
Na APLUB, Rolf, com outros dirigentes (Arthur Mickelberg, Daniel Juckowski), criaram a Fundação Aplub de Crédito Educativo, que hoje é uma vigorosa instituição – a Fundacred -, uma das maiores do Brasil no ramo, com quase 80 mil profissionais de curso superior, formados com a ajuda do financiamento da entidade. A Fundacred administra hoje uma carteira de R$ 1 bilhão de reais.
Homem de espírito e conhecedor das artes, Rolf foi o grande inspirador e gestor da Pinacoteca de Arte Riograndense, a maior coleção particular de artistas gaúchos do Brasil, hoje sob a propriedade e os cuidados da Fundacred.
Mais recentemente, e mais uma vez, Rolf inovou com a instituição do ABC da Saúde, um site com cerca de 600 verbetes de doenças e tratamentos, a maioria assinados por médicos gaúchos.
Talvez a marca mais profunda desse personagem inigualável era o modo como se relacionava com os amigos. Um deles, perseguido do regime militar, foi acolhido por ele, através da APLUB, em um tempo que isso era um ato temerário, capaz de atrair as iras dos ditadores de plantão. Outro, o ex-governador Synval Guazzelli, injustiçado em um livro malicioso, teve a honra resgatada pela reação firme e reiterada de Rolf. Outro, o renomado artista gaúcho Ernesto Frederico Scheffel, doente terminal, foi hospedado em sua casa na Vila Nova, durante seis meses, até que faleceu, cercado dos cuidados de Rolf, Elizabete, Alice e Gilberto.
Rolf deixa uma família maravilhosa, a esposa Elisabete, os filhos Max , Alice, Mariane e André, netos(as) e um bisneto, que viram-no partir para a eternidade serenamente. Como disse o filho Max: “viveu bem e morreu bem aos 92 anos”.
Saudades.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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