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Variedades Dubladores defendem suas vozes contra a inteligência artificial: Amazon é alvo de protesto ao testa tecnologia de dublagem em inglês e espanhol

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Cena do filme "O Silêncio de Marcos Tremmer"; opção de áudio em português foi removida do Prime Vídeo. (Foto: Programa Ibermedia/Divulgação)

Assinantes do Prime Video que apertaram o play no filme espanhol O Silêncio de Marcos Tremmer no fim de fevereiro ficaram em choque quando perceberam que a dublagem em português não parecia feita por humanos. As vozes com pouca emoção e desconexas das expressões dos atores causaram estranhamento. Nas redes sociais, muitos apontaram que o diagnóstico era um só: o uso de inteligência artificial generativa para criar a versão brasileira. Mas este era só o começo. Dias depois, a Amazon anunciou globalmente que adotaria IA para auxiliar na dublagem de alguns conteúdos internacionais da plataforma.

A medida vem quase um ano e meio após o fim da greve de atores de Hollywood, que durou 118 dias e tinha o uso de inteligência artificial como um dos principais pontos de conflito entre os grevistas e os estúdios. A nova proposta, segundo o Prime Video, é fazer com que o conteúdo internacional seja “mais acessível aos espectadores de todo o mundo”.

Mas como isso funciona na prática? A princípio, 12 séries e filmes que até então não tinham versão dublada farão parte do programa piloto, com opções de áudio em inglês e espanhol latino-americano. Os três títulos citados como exemplo no comunicado à imprensa, El Cid: A Lenda, Mi Mamá Lora e Long Lost, não constavam no catálogo brasileiro até o fechamento da reportagem. A opção de áudio em português de O Silêncio de Marcos Tremmer também não está mais disponível. Por enquanto, dublagens com IA em outras línguas – incluindo o português – não estão nos planos.

Para Raf Soltanovich, vice-presidente de tecnologia do Prime Video e Amazon MGM Studios, a ideia é democratizar. “No Prime Video, acreditamos em melhorar a experiência dos clientes com inovação prática e útil de IA”, declarou, em comunicado enviado à imprensa. “A dublagem assistida por IA está disponível apenas em títulos que não têm suporte de dublagem, e estamos ansiosos para explorar uma nova forma de tornar as séries e filmes mais acessíveis e agradáveis.”

Mas a novidade levanta questões éticas, sobretudo em um contexto em que o uso das IAs ainda é discutido globalmente, tanto no campo artístico quanto no legislativo. Enquanto sindicatos da indústria criativa tentam encontrar formas de lidar com a popularização inevitável da tecnologia, profissionais da voz temem o desaparecimento completo de seus empregos.

“Se você parar para pensar, o que mais nos identifica como brasileiros é a língua. Se você tem um produto que está em uma língua diferente da nossa, conseguimos trazer a brasilidade para ele por meio de coloquialismos ou de atribuições de época, se for o caso”, explica o dublador Fábio Azevedo, presidente da Associação Brasileira de Dubladores, a DUBLAR, e um dos fundadores do movimento Dublagem Viva. “A dublagem cria uma identificação, principalmente no momento mais pueril da nossa vida, que é única. Se você tem uma localização em português brasileiro, isso demonstra, por parte de quem comercializa aquele produto no Brasil, um respeito e uma reverência à nossa identidade.”

Apesar de os filmes dublados com IA serem uma realidade nova no mercado, as preocupações dos profissionais de voz vêm crescendo há alguns anos. No mesmo mês em que a paralisação de atores de Hollywood chegou ao fim, em novembro de 2023, a United Voice Artists, aliança global de organizações e sindicatos de dubladores, lançou um abaixo-assinado pedindo a regulamentação da inteligência artificial, de modo a proteger os profissionais da voz.

No Brasil, a Dublagem Viva também lançou um manifesto pedindo urgência na tramitação de projetos de lei que visam a regulamentação da inteligência artificial e do streaming. Segundo o texto, sem um estatuto que regularize a IA, toda a cadeia produtiva da dublagem é afetada – não apenas atores, mas também profissionais que vão desde técnicos de captação e mixagem a tradutores, produtores e equipes administrativas.

“A relação entre arte, criatividade e tecnologia é um tema complexo, pois o avanço da IA traz tanto desafios quanto oportunidades. No mundo artístico, a tecnologia pode parecer uma ameaça, mas também abre portas para que mais pessoas, mesmo sem habilidades técnicas específicas, possam expressar sua criatividade. Com a evolução contínua dos modelos de inteligência, muitas pessoas agora têm acesso a ferramentas poderosas para criar pinturas, desenhos, música e outros tipos de arte, mesmo sem formação técnica”, contrapõe Lucas Neves, gestor de iniciativas estratégicas de IA da ília, empresa ligada à Brasscom (Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação).

Setor quer que IA seja ferramenta, e não substituição

Mesmo indo contra a dublagem com IA, a classe não quer guerra contra a tecnologia. “Lutar contra a inteligência artificial, ou a favor de uma proibição, é infantil e bobo”, salienta Azevedo, que é dublador de personagens como o Doutor Estranho, da Marvel, e Theon Greyjoy, de Game of Thrones. “Não tem como lutar contra uma evolução. O que você pode fazer é regulamentá-la para que ela sirva como ferramenta para apuro, para melhoria e crescimento dentro daquele setor.”

Fábio dá exemplos de como a inteligência artificial pode ser usada para auxiliar a tradução e a dublagem. “Todas as línguas têm suas peculiaridades. De repente, em português do Brasil, falar ‘eu te amo’ são três palavras. Mas, em japonês, podem ser seis. Uma ferramenta poderia ajudar, em uma etapa primária, o tradutor a escolher um termo que soe mais natural e não esvazie o discurso. A grande dificuldade da tradução e adaptação para a linguagem é o respeito à dramaturgia que está no texto. Às vezes, você precisa eliminar uma informação importante para o texto caber naquela boca.”

No entanto, ele reforça que a ideia é agregar, e não substituir: “A inteligência artificial poderia ajudar nisso, ou quando o diretor de dublagem está fazendo a adaptação, ou até mesmo com ajustes microscópicos depois de gravado. Mas tudo isso sempre como ferramenta. Quando você substitui o artista por uma ferramenta, você acaba eliminando o único ponto que transforma esse produto em um elemento artístico”. (As informações são jornal O Estado de S. Paulo)

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https://www.osul.com.br/dubladores-defendem-suas-vozes-contra-a-inteligencia-artificial-amazon-testa-tecnologia-de-dublagem-em-ingles-e-espanhol-e-gera-protesto/ Dubladores defendem suas vozes contra a inteligência artificial: Amazon é alvo de protesto ao testa tecnologia de dublagem em inglês e espanhol 2025-03-21
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