Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de abril de 2023
Com o nome citado em raps de MCs da estatura de Jay-Z, Kanye West, Mos Def e Pusha T, o americano Lyor Cohen, de 63 anos, é um dos responsáveis por fazer do hip hop a potência comercial cultural que é hoje. De gerente de turnê do grupo Run DMC, nos anos 1980, a presidente da Def Jam (selo que levou Jay Z e outros artistas do estilo ao mainstream e depois acabou absorvendo nomes de outros gêneros) e diretor de criação do Warner Music Group, Cohen se tornou um dos maiores casos de sucesso da indústria mundial da música.
Nesta quarta-feira (12), às 14h, o atual diretor global de música do YouTube faz, no Rio2C, a palestra “Rap, hip hop e tecnologia: a incrível jornada de Lyor Cohen e o futuro da música”, com mediação de Eliane Dias e Evandro Fióti.
Em entrevista ao Globo, o executivo admite o seu desconforto com a denominação de “magnata da música” (music mogul) que frequentemente lhe é atribuída.
“Tem pessoas que usam esse termo de uma maneira respeitosa e amorosa… Então eu aceito, mas tenho que admitir que sinto arrepios sempre que ouço. Na verdade, sou um servo da música, de uma forma de arte que amo profundamente”, afirma ele, que recentemente andou revelando planos para que o YouTube ultrapasse o Spotify (a maior plataforma de streaming de música atualmente) como o maior financiador de produções musicais do mundo.
“Trazer mais dinheiro para a indústria não significa que um monte de gente fique rica, mas que mais artistas possam ganhar a vida fazendo música. Fundamental é garantir que a indústria receba o máximo de dinheiro e que, a partir daí, possamos pensar em produtos que os artistas usem para criar um envolvimento mais profundo com seus fãs. E que os fãs possam descobrir mais facilmente seus artistas favoritos.”
Lyor Cohen jura de pés juntos que nunca tentou prever o futuro da música. “É a garotada nas garagens que vai impulsionar o futuro da música, não eu. Sobre isso, tudo o que posso dizer é que dou boas-vindas à diversidade”, diz.
“E o fato de que o mundo está ficando menor e que gêneros musicais de países como Brasil, Argentina, Nigéria, Gana, Senegal e Coreia estejam encontrando públicos globais deixa tudo mais alegre. Ajudamos muito artistas brasileiros como Anitta e Marina Sena, e tenho muito interesse na música urbana que vem das favelas. Quero encontrar o KondZilla (Konrad Dantas, criador da produtora audiovisual e selo musical KondZilla).”
Descendente de uma família formada por quatro irmãos judeus que fugiram da Ucrânia em 1910, fugindo do recrutamento do exército russo, e foram parar em Natal (os Palatnik, cujo ramo brasileiro ele vai encontrar na visita ao Rio), Cohen tem outra ligação com o Brasil: sua babá foi a mulher do maestro e compositor pernambucano Moacir Santos, que foi viver em Los Angeles em 1967.
Conselho dos pais
Dos pais, o empresário trouxe a lição de que mais vale dedicar-se a uma ocupação de que realmente goste do que apenas ganhar dinheiro.
“O que é muito incomum para pais judeus, não é?”, ironiza. “E foi assim, sendo curioso por música, que eu descobri essa espécie de CNN da experiência negra. Por exemplo: o crack só chegou ao noticiário quando atingiu os subúrbios brancos, mas antes disso os discos de rap contavam sobre a devastação que poderia acontecer, com palavras muito abrasivas e batidas de bateria.”
Foi Lyor Cohen quem levou o grupo Run DMC a fechar uma inédita parceria com a grife de roupas esportivas alemã Adidas.
“O hip hop é empreendedor, é mais do que música. Apenas senti que a Adidas poderia se beneficiar dessa associação tanto quanto o Run DMC por causa do amor autêntico que o grupo tinha pela marca. Colocá-los juntos foi uma vitória óbvia para todos, e não foi nada brilhante”, considera ele, que não se calou diante dos recentes comentários antissemitas de Kanye West. “Somos todos humanos, mas estou ofendido e magoado. Não é fácil ser judeu neste mundo”.