Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Lenio Streck | 1 de maio de 2021
Que o governo federal tenha apostando em uma espécie de “laissez faire, laissez passer” pandeminial, já não há dúvidas. Apostou em uma espécie de “mão invisível” da medicina. É como se uma imunidade de rebanho se formasse logo de saída.
Deu tudo errado e agora o governo corre atrás do prejuízo. São já mais de 400 mil mortos. Alguns negacionistas continuarão a dizer que faltou tratamento precoce. Pois a ciência diz o contrário: a aposta irresponsável em tratamento precoce é que causou um percentual considerável de mortos. Isto é: tivessem recorrido aos hospitais e não ao tal tratamento precoce, teríamos menos mortos.
Ah, mas faltam vagas em hospitais. De que adiantaria, diria alguém. OK. Ocorre que esse é um longo processo de incompetências. Negamos o vírus. Negamos os próprios tratamentos. Apostamos em paliativos.
Nesse conjunto de erros, o maior foi ignorar o fato – e, sim, fatos existem – de que a vacina é a única solução. E o Brasil negou essa evidencia. Deixou de comprar. Expulsou vendedores. E continuou a apostar no tal tratamento precoce até há pouco.
A CPI da Pandemia poderá esclarecer muitas dessas coisas. Mas, agora, estamos diante de um grave problema, representado pela falta de vacinas para a segunda dose, especialmente da Coronavac.
Sim, incrível. Começaram a vacinar a população e não se deram conta de que poderia faltar a segunda dose. Patético. Trágico.
Quando alguém recebe a primeira dose, estabelece um contrato com o Estado. Até 28 dias depois deve o Estado oferecer a segunda dose.
Ah, sim, dizem os representantes dos governos que não haverá problemas de se tomar a segunda dose 40 ou 50 dias depois. É? Apresentem o estudo que comprova isso, caras pálidas. Mostrem. Provem.
Neste momento milhares de pessoas esperam a segunda dose e já estão passando do prazo. Isso de dizer que não há problemas é chute. Aliás, imaginem se os representantes dos governos dissessem: sim, depois de 30 dias a segunda dose pode não ter a mesma eficácia.
Daria um quebra pau. É evidente que qualquer burocrata tem de dizer o obvio: que não haverá problema de se tomar a segunda dose mesmo 60 dias depois.
Estamos lascados. A grande notícia é que até o final do ano estaremos vacinados. É? Como párias do mundo, nossos nacionais não serão aceitos nos outros países.
O governo federal, que sempre esteve preocupado com a economia, esqueceu da primeira lição, parecendo que seus economistas estudaram em EAD: vacina é o melhor remédio econômico. Simples assim.
Aliás, por falar nisso, onde andará o Osmar Terra, o grande profeta? Triste fim de Policarpo. E o deputado não vem a público dizer que se equivocou? Que feio.
De minha parte, digo que o deputado pode facilmente pedir desculpas. Este é o país em que se faz a maior patacoada e, logo depois, basta pedir sinceras desculpas. Sergio Moro escreveu seu pedido de desculpas em 32 laudas ao STF. O Min. Guedes diz que houve mal-entendido. Onde disse filho de porteiro queria dizer filho de parteiro ou algo assim.
O Presidente chegou a dizer que lockdown era estado de sítio. O governador de Minas soltou a seguinte perola: A Nova Zelândia, ao fazer lockdown, corre o risco de se tornar uma ilha. Pois é, governador. Pois é. Nova Zelândia é uma ilha. E zerou a COVID. Portugal já não tem mortes. E não é uma ilha. Céus.