Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Carlos Roberto Schwartsmann | 18 de outubro de 2022
Apesar da política governamental desastrosa de produzir médicos a granel, seguindo o modelo cubano, a profissão médica ainda é muito prazerosa.
No século passado o Brasil possuía menos de 100 faculdades de medicina. Hoje, inacreditavelmente, são 353.
Evidentemente não foi possível construir hospitais, nem lapidar corpo docente qualificado, em tão pouco tempo, para oferecer ao estudante uma formação adequada.
Hoje temos excesso de médicos no Brasil!
A maioria dos recém-egressos tem uma formação muito deficiente.
O sentimento de frustração é crescente e nunca tantos abandonaram a profissão.
Alguns com mais sorte e recursos financeiros estenderam seus cursos, após a residência médica, e se tornaram superespecialistas. Sabem tudo de um sistema, de um tecido, de um órgão. Alguns apreenderam a utilizar a computação e a robótica. Hoje, o paciente é tratado em pedaços, não mais como um todo. Não mais como um ser humano. Nós somos especializados em doenças e não mais em doentes!
Esqueceram os ensinamentos dos velhos mestres que a base de qualquer tratamento médico é a relação médico-paciente forte. A construção dessa relação é baseada em empatia, afeto, confiança, respeito mútuo e principalmente fé!
Hoje este relacionamento é torpedeado e o médico trabalha sob muita pressão. Trabalha sob stress físico e psíquico que geram conflitos econômicos que minam o relacionamento interpessoal e até familiar.
A relação não é mais direta entre o médico e o paciente. Interesses múltiplos se interpõem: Da política governamental, dos planos de saúde, dos hospitais, das indústrias farmacêuticas e tecnológicas médicas.
A exaustão física e emocional pode ser tão grande que explica a conclusão da “Fundação americana de prevenção ao suicídio” de que os médicos americanos se suicidam duas vezes mais que a população em geral.
Segundo o acadêmico JJ Camargo “Vibramos quando conseguimos salvar vidas, mas nos consumimos quando fracassamos!”
Sob outro prisma e contrastando com estas assertivas existe o reconhecimento que nós cuidamos do bem mais precioso que o ser humano pode ter: A SAÚDE! Por isso, pelo nosso serviço, podemos receber a maior recompensa que existe: A gratitude!
Nenhuma outra profissão exige uma postura tão ética e humanista. A avaliação da nossa conduta moral é a mais rigorosa da sociedade.
O nosso ressarcimento, por ter vencido a doença, ter afastado a moléstia, não pode ser mensurado em cifrões, mas sim em sentimentos. Como é bom ouvir de um enfermo curado: “Não tenho mais dor! Respiro melhor! Minha fraqueza desapareceu! Voltei a andar! Voltei a viver!!!
O olhar emocionado de um paciente cheio de gratidão não tem preço. Admiro muito os pacientes que me fazem chorar. Bem lá no fundo fico pensando: “Ainda, como é bom ser médico!”
Carlos Roberto Schwartsmann – Médico e Professor universitário
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