Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2024
Tem circulado nas redes sociais a falsa informação de que o Japão teria “nomeado oficialmente” as vacinas de RNA mensageiro (mRNA) contra a covid-19 de “medicamento mais mortal da história da medicina”.
Postagens nas redes sociais repercutem uma coletiva de imprensa feita por quatro pessoas contrárias a uma nova geração de imunizantes chamados de “replicon”. Nenhum dos participantes – um político, uma jornalista e dois professores universitários – representa o governo japonês. O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão diz que a segurança das vacinas foi atestada em laboratório e nos testes clínicos. O imunizante passou a ser aplicado em outubro no país asiático.
As publicações no Facebook e no Whatsapp espalham um texto que alega: “Japão nomeia oficialmente vacina de mRNA contra Covid como ‘droga mais mortal da história’”. Ao contrário do que pode parecer, essa alegação não foi feita pelo governo em um pronunciamento oficial.
A postagem é acompanhada do vídeo de uma coletiva de imprensa convocada por Ryuhei Kawada, membro da Câmara dos Conselheiros – uma das instâncias do poder legislativo japonês. Kawada pediu a suspensão temporária das vacinas de mRNA “replicon” da nova campanha de imunização contra covid-19, iniciada em 1º de outubro de 2024. Nenhuma das pessoas que participaram do evento eram representantes do governo. Na mesa, estavam dois professores universitários, o próprio Kawada e sua esposa, a jornalista Mika Tsutomi.
Dentre os participantes está o professor Yasufumi Muramaki. Ele foi selecionado para um programa de bolsas da Front Line COVID-19 Critical Care Alliance (FLCCC), entidade criada em abril de 2020 que defende tratamentos não aprovados e ineficazes para o tratamento da covid-19.
Em 1º outubro, o governo japonês iniciou uma nova campanha de vacinação contra a covid-19 que deve se estender até março de 2025. O jornal The Japan Times informou que estão disponíveis cinco imunizantes, incluindo um novo tipo chamado vacina replicon. O Japão é o primeiro país a implementá-la. O fabricante diz (confira aqui) que ela possui a vantagem de requerer uma dose menor e oferecer proteção mais duradoura que as vacinas de mRNA padrão.
A novidade, porém, gerou uma onda de desinformação no país. Um dos boatos falsos é o de que os vacinados poderiam infectar pessoas não vacinadas transmitindo componentes do vírus através dos fluidos corporais. Isso fez com que alguns estabelecimentos proibissem a entrada de vacinados em suas instalações, como relatou o jornal Asahi.
A hipótese de que a vacina replicon pode infectar pessoas não vacinadas por meio de contato carece de evidências científicas e foi refutada pelo Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão. “Para a aprovação farmacêutica, a segurança foi revisada com base nos resultados de testes em animais e ensaios clínicos. Foi confirmado que não houve grandes diferenças na segurança em comparação com as vacinas de mRNA existentes”, destacou a pasta.
Matéria do The Japan Times sobre a reação negativa da vacina replicon no país entrevistou o professor assistente de geriatria na Escola de Medicina Icahn no Mount Sinai, em Nova York, Yuji Yamada. Ele explicou que não há possibilidade de a vacina causar a transmissão do vírus, porque a composição dela é formada apenas por RNA mensageiro que produz proteínas spike no corpo do próprio vacinado. Essa proteína não tem capacidade para causar infecção, mas serve para ensinar as células do corpo a reconhecer a presença do coronavírus, vírus causador da covid-19.
Artigo publicado na revista científica The Lancet, em 16 de novembro, alertou para a importância de combater a desinformação associada à vacina de replicon. A tecnologia poderá ser usada futuramente para combater outras doenças.
Casos adversos com vacinas são extremamente raros. No Brasil, eventos supostamente atribuíveis à vacinação contra a covid-19 que foram classificados como graves, fatais ou não, foram 1,1 casos notificados a cada 100 mil doses, de acordo com nota do Ministério da Saúde, enviada ao Estadão Verifica.
Procurada pelo Verifica, a embaixada do Japão no Brasil disse que não iria comentar o conteúdo, mas orientou as pessoas a procurarem fontes oficiais para se informarem e citou como exemplo o site do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão.
O Verifica mostrou que eram falsas as alegações de que vacinas contra a covid-19 tenham provocado a morte de 17 milhões e que mataram mais pessoas que ‘121 bombardeios nucleares em Hiroshima’. (Estadão Conteúdo)