É falso que o uso de máscaras não reduza o risco de contrair o coronavírus e que o equipamento seja prejudicial à saúde, como consta num texto publicado pelo site Estudos Nacionais. A postagem recorre a um vídeo gravado por um otorrinolaringologista sobre uma paciente que teria sofrido uma queda enquanto corria usando máscara. Segundo a publicação, ele afirma que o equipamento de proteção pode causar intoxicação por CO2 e acúmulo de líquido nos pulmões. Isso não é verdade.
O uso de máscaras impede a disseminação de gotículas no ambiente, por isso é indicado para a proteção contra o coronavírus. Mesmo a máscara caseira, quando produzida da maneira correta, não oferece riscos à saúde.
Embora o uso da máscara reduza a capacidade respiratória – e, justamente por essa razão, não seja recomendada durante atividades físicas –, especialistas ouvidos pelo Comprova reafirmaram que elas são eficazes na proteção contra o coronavírus e negaram a possibilidade de as máscaras causarem danos graves como intoxicação por acúmulo de CO2 ou acúmulo de umidade e líquido nos pulmões.
O post afirma ainda que as autoridades ao redor do mundo ignoraram o risco do uso de máscaras mesmo após a morte de dois estudantes na China que se exercitavam usando o equipamento. As duas informações também são falsas. Além de a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomendar que as pessoas usem máscaras ao praticar exercícios intensos ao ar livre, a agência de checagem portuguesa Polígrafo já mostrou que é falsa a informação de que os estudantes chineses morreram por conta do uso do equipamento, em maio deste ano.
Iniciamos procurando o vídeo citado no início da publicação verificada e chegamos a uma postagem da deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), feita no Twitter em 20 de novembro. Em seguida, o Comprova analisou os compartilhamentos do vídeo, não apenas no Twitter como também no Instagram e no Facebook, onde foi possível identificar o nome do médico responsável pela gravação.
Feita a consulta no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), foi possível confirmar que Leandro Tavares Flaiban, médico otorrinolaringologista que trabalha no Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), foi o responsável pela gravação.
Consultamos as recomendações da OMS a respeito do uso de máscaras, inclusive durante a realização de atividades físicas, e entrevistamos os infectologistas Fábio Amorim, do Hospital São Rafael e do Instituto Couto Maia, unidade de referência para doenças infectocontagiosas na Bahia; e Clarissa Cerqueira, do Hospital Cardiopulmonar e da Estratégia Med, em Salvador.
Buscamos informações sobre o uso de máscaras em verificações anteriores do Comprova e de outras agências de checagem. Por fim, entramos em contato com o Hospital Paulo Sacramento, em Jundiaí (SP), que confirmou ter em seu quadro de profissionais o otorrino Leandro Tavares Flaiban. Porém, não foi possível falar com o médico pelos telefones do hospital. Não conseguimos encontrar os contatos pessoais dele. Também procuramos o site Estudos Nacionais, mas não recebemos resposta até o fechamento desta verificação.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de dezembro de 2020.
O uso de máscaras realmente reduz a capacidade de respirar, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova. No entanto, isso não significa que haja um aumento de concentração de CO2 capaz de causar intoxicação. “O gás carbônico que se concentra numa máscara não é suficiente para causar intoxicação nem dano cerebral. A gente trabalha com máscara N95 o tempo inteiro e eu desconheço caso de profissional de saúde que tenha desmaiado”, afirma o médico infectologista Fábio Amorim, que trabalha no Hospital São Rafael, em Salvador, e no Instituto Couto Maia, unidade de referência na Bahia para doenças infectocontagiosas. A máscara N95 consegue filtrar 95% de partículas e é indicada para proteção contra doenças por transmissão aérea.