A política brasileira é terreno fértil para grandes escândalos. Muitos ainda virão. A diferença, agora, é que o foco não está no governo ou no Congresso, como em anos passados. O grande escândalo da vez, que envolve a tentativa de impedir a vitória de Lula nas eleições de 2022, atinge em cheio a oposição, especialmente o ex-presidente Jair Bolsonaro. Isso tem implicações relevantes para o cenário político, agora e em 2026.
Num primeiro momento, o inquérito da Polícia Federal e a provável denúncia da Procuradoria-Geral da República desnorteiam os bolsonaristas. Deve haver uma divisão entre setores leais ao ex-presidente, que insistirão na inocência dele, e um outro grupo que verá o processo como uma oportunidade para construir lideranças alternativas – com viés antissistema ou mais moderado.
Essa divisão entre os adversários de Lula, causada pela incerteza sobre a perspectiva de poder de Bolsonaro, facilitaria o avanço da agenda do governo no Congresso. As condições já têm sido relativamente favoráveis para o Planalto. Com popularidade próxima aos níveis do início do governo, a maioria dos deputados e senadores continua propensa a cooperar com Lula, mesmo que discretamente, o que é uma condição importante para a aprovação de medidas econômicas.
Com uma oposição nas cordas, o governo terá mais controle sobre a pauta legislativa, com caminho mais aberto para as propostas de controle de gastos e outras iniciativas, como a reforma do Imposto de Renda ou novas medidas de aumento de receita. Haverá oposição a essas propostas, é claro, e muitas delas ainda acabarão sendo modificadas ou derrubadas pelo Congresso; mas essa resistência será ainda mais concentrada nos grupos de interesse específicos que são afetados, e menos articulada de maneira geral pelas lideranças de oposição.
A resposta de Bolsonaro a esse contexto deverá ser a de mostrar que ele ainda tem grande apelo eleitoral e que, mesmo que seja impedido de concorrer em 2026, poderá indicar outro nome, fechando as portas para dissidentes. Isso implica sinalizar que não desistirá de ser candidato, para reforçar a narrativa de perseguição, e que qualquer nome alternativo será fiel a suas bandeiras e leal a ele próprio, para ter o máximo possível de transferência de votos. Com isso, portanto, aumentam as chances de que um dos filhos do ex-presidente seja o verdadeiro candidato do campo bolsonarista em 2026.
Nesse cenário, é grande a chance de mais uma eleição polarizada em 2026; dessa vez, entre Lula e Eduardo ou Flávio Bolsonaro. A chave, para Bolsonaro, será manter o mesmo discurso que galvanizou o apoio de algo como um terço do eleitorado brasileiro, talvez até um pouco mais, a depender da análise. Assim, não apenas a direita bolsonarista teria uma chance real de voltar ao poder em 2026, mas também mais influência sobre as eleições do Congresso, especialmente no Senado, alterando o balanço de forças no Supremo Tribunal Federal. Ainda há muito em jogo nos próximos anos, e o reequilíbrio de forças dentro da oposição, após o escândalo do plano golpista, será uma das histórias mais importantes para se acompanhar. (Opinião/Silvio Cascione – diretor da Consultoria Eurasia Group)